São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Intelectuais condenam omissão na área social

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de iniciativas no campo social é apontada como deficiência do governo por sete dos dez intelectuais que a Folha interrogou sobre o desempenho de FHC.
Essa opinião não parte apenas de acadêmicos que mantêm vínculos com a esquerda e que presumivelmente levantariam o problema como forma de marcar posição.
A crítica também chega de três simpatizantes do presidente:
"Faltou um planejamento ou criatividade maior no problema da melhora da distribuição de renda e da diminuição das desigualdades sociais", diz o historiador Boris Fausto (USP).
"O governo ou não fez o suficiente ou não comunicou bem suas ações nessa área", diz Bolivar Lamounier (cientista político).
"É preciso dar uma adequação maior do discurso à ação nesse campo", complementa o editor Pedro Paulo de Sena Madureira.
Fábio Konder Comparato (Faculdade de Direito da USP) é mais contundente: "O governo associou-se ao poder oligárquico, ligando-se eleitoral e parlamentarmente às forças conservadoras do país; em consequência, nada fez de relevante para frear o agravamento da desigualdade social".
Para Emir Sader (sociólogo da USP), houve regressão nas políticas sociais, e o Programa Comunidade Solidária "é uma concepção assistencialista e localizada."
"Vamos esperar que se dê algum passo para o cumprimento da vaguíssima promessa de se voltar as preocupações ao social, para que os tucanos façam jus ao nome social que trazem na sigla", afirma José Paulo Paes (poeta, ensaísta e professor da USP).
Leôncio Martins Rodrigues (cientista político, Unicamp) não foi o único a apontar o combate à inflação como um dos pontos positivos do primeiro ano de FHC:
"Uma moeda forte é imprescindível não apenas para o bom desempenho econômico, mas também para fazer com que os brasileiros aprendam a estabelecer relações adequadas de causa e efeito."
Mas é justamente com relação ao Plano Real que FHC recebe a mais inequívoca das críticas, e por parte do sociólogo Francisco de Oliveira, um de seus mais próximos colegas de USP e, como ele, fundador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
O plano, diz ele, significou "a abdicação da soberania nacional e a açodada e interessada rendição aos cânones da nova ordem neoliberal globalizada".
O fato de o governo ter reconhecido que os "desaparecidos" durante o regime militar foram mortos pelo Estado é visto como um dos créditos do primeiro ano de FHC pelo historiador Paulo Sérgio Pinheiro (USP), que assinala o engajamento do presidente na área dos direitos humanos.
Nesse ponto também há controvérsia. Comparato diz que a indenização de familiares de desaparecidos "surgiu no pecado original, que foi o de impedir que fizéssemos um acerto com a verdade" (a apuração dos culpados).
Por fim, o biólogo Sérgio Henrique Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, diz que FHC combateu a inflação, mas não concretizou o projeto de investimentos constantes em pesquisas na área de ciência e tecnologia.

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