São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Depois da estabilização

O sucesso no controle da inflação é inegável, assim como o são seus benefícios para o país. A capacidade de consumo dos setores de mais baixa renda deixou de ser brutalmente corroída ao longo de cada mês. Apesar da relativa turbulência política dos últimos meses e da dura queda no ritmo de crescimento da economia no segundo semestre de 95, a situação geral da nação está incomparavelmente melhor do que nos últimos anos. Tudo muito bem. Mas e daqui em diante?
A rota de reforma do Estado e maior integração ao comércio mundial mostra-se não apenas acertada como praticamente inevitável. Mas, se ela certamente traz consigo benefícios, não se pode ignorar que também coloca novos desafios.
Mão-de-obra qualificada tornou-se um insumo cada vez mais decisivo para a competitividade de um país. E é desnecessário frisar quão pífios são os avanços do Brasil no quesito educação.
Não se trata apenas da reduzida formação de pesquisadores ou dos parcos investimentos nas áreas científica e de desenvolvimento de produtos. As graves deficiências na formação básica da população são ainda mais prejudiciais, pois restringem a capacidade de absorção de novas tecnologias desenvolvidas no exterior. Nesse aspecto, o Brasil acumula décadas de descaso e mau uso dos recursos disponíveis.
Do ponto de vista dos investimentos, tampouco está claro o horizonte. Se a forte competição dos importados conteve os preços nacionais, é notório que alguns setores foram "espremidos" além de seu limite de sobrevivência.
Sete meses de demissões ininterruptas na indústria paulista, segundo pesquisa da Fiesp, são um sinal eloquente. E é improvável, para dizer o menos, que o setor de serviços possa absorver os trabalhadores dispensados da produção industrial e tornar-se uma força capaz de dinamizar a economia.
Tomando, desse modo, uma perspectiva de mais longo prazo, o cenário é mais difícil do que as conquistas já alcançadas poderiam sugerir. À medida que a estabilização deixa de ser o tema econômico por excelência, o Brasil precisa decidir rumos e neles verdadeiramente empenhar esforços.

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