São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Abaixo de 6%

A esfinge econômica do final deste século chama-se Estados Unidos da América. Os analistas que tentaram decifrá-la, nos últimos anos, foram seguidamente desmentidos pelos fatos.
Nos últimos dias de 1995 as taxas de juros de longo prazo nos EUA ficaram abaixo dos 6%, de modo consistente, pela primeira vez em dois anos. Em contraste, porém, com esse fator claramente positivo surgem ao mesmo tempo sinais negativos. Os indicadores das vendas de Natal foram decepcionantes, caíram a confiança do consumidor americano e as vendas de setores ligados ao investimento, como a indústria de bens de capital.
Finalmente, o conflito entre o presidente Clinton e a bancada republicana chegou a impor cortes nos salários do funcionalismo, interrupção de serviços como a concessão de vistos diplomáticos e, mais grave, criou ameaças de processo judicial contra o governo federal por manipular fundos para cobrir o rombo orçamentário.
Há neste momento uma dose considerável de incerteza sobre os efeitos combinados desses vários processos. A queda nos juros de longo prazo é positiva, pois pode reanimar os projetos de investimento produtivo. Para o Brasil, trata-se igualmente de um fato animador, pois a menor remuneração das aplicações nos EUA pode levar a uma nova onda de capitais para os chamados mercados emergentes.
Entretanto, a desaceleração do crescimento econômico, a menor confiança dos consumidores (que estão excessivamente endividados), e a turbulência política num ano de eleição presidencial são fatores que desaconselham qualquer aposta mais firme em um salto para a frente da economia americana.
O termômetro mais sensível dessa incerteza, nos EUA, é Wall Street. A valorização das ações em Nova York bateu um recorde que poucos anteviam, ultrapassou a marca psicológica dos 5.000 pontos no indicador Dow Jones.
O recorde, entretanto, tem propiciado menos euforia que preocupação com o eventual exagero especulativo implícito nesse movimento. Se as vendas não vão tão bem, se as novas tecnologias ainda precisarão de alguns anos para amadurecerem, se a rigor ninguém sabe quem vencerá a guerra entre democratas e republicanos em 1996, por que as ações continuariam a subir?
Os juros abaixo de 6% são uma condição necessária para a reversão do ciclo contracionista que ameaça a economia americana e, por extensão, os mercados globais. Mas a julgar pelos outros fatores circunjacentes, podem não ser suficiente.

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