São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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Ele, o bispo

FERNANDO MOLICA

RIO DE JANEIRO - A leitura de alguns dos livros escritos pelo bispo Edir Macedo acaba com qualquer dúvida sobre os mistérios divinos.
Na obra do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, o Deus clássico dá lugar a uma espécie de executivo, algo como o acionista unitário dessa grande holding chamada universo.
Ele só teria uma preocupação: garantir o cumprimento de todas aquelas promessas feitas por seu filho Jesus em sua passagem pela Terra. Em seus livros, Macedo expõe trechos bíblicos segundo os quais a busca de prosperidade é quase uma obrigação do ser humano. O autor ressalta também que Jesus operou milagres e prometeu continuar a fazê-los.
Vamos então cobrar a promessa: quem não fizer isso é um otário que quer continuar na miséria. Isso tudo sem culpas ou pecados. Para Macedo, os males são externos, causados por demônios capazes de gerar doenças, vícios e pobreza.
Assim, a Universal não é bem uma igreja, mas um balcão de cobranças que, como tal, cobra um percentual sobre os milagres. Se as graças não vierem, a culpa é de Deus, não da Universal. Todo o investimento tem um risco, certo?
Nada disso, porém, está relacionado a eventuais falcatruas fiscais de Macedo, que devem ser apuradas. É preciso, portanto, cuidado ao falar até mesmo em fechamento da Universal.
O crescimento da Universal revela que suas formulações foram bem aceitas por milhões de fiéis. Pessoas que, no exercício de um direito, se associaram a Macedo e dele compraram a idéia de usar Deus como um atalho para a prosperidade. O fechamento da Universal seria um atentado à liberdade religiosa e abriria um precedente de consequências imprevisíveis.
O mais razoável é nos limitarmos à apuração das suspeitas de infrações legais, até porque ninguém tem procuração divina para julgar os desvios cometidos por qualquer igreja. Deixemos que Deus cuide dessa história de "ou dá ou desce" -para usarmos uma expressão tão cara à Universal.

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