São Paulo, segunda-feira, 1 de janeiro de 1996
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A hora e a vez da social-democracia

EMERSON KAPAZ

O Brasil dos próximos anos passará por transformações ainda mais velozes e profundas do que as já ocorridas desde o início da década. Os investimentos em modernização tecnológica vão se multiplicar. A competição dos produtos e serviços importados vai se acirrar.
O resultado será de uma ambiguidade da qual não há como fugir. De um lado, teremos cada vez mais fábricas robotizadas, bancos automatizados e grandes redes que oferecerão produtos e serviços com qualidade e preços do Primeiro Mundo. De outro, crescerá o número de trabalhadores desempregados e de pequenos empresários falidos por falta de uma resposta rápida às mudanças ocorridas.
Esse cenário já é realidade na Europa, onde o desemprego em massa provocado pela modernização tecnológica é considerado o maior desafio que os governos de todos os matizes têm a enfrentar nesta virada de século. Até agora, as ideologias tradicionais de direita e de esquerda mostraram-se incapazes de superá-lo. O neoliberalismo não sabe como atacar o aumento da marginalização social simplesmente porque esse não é um problema que o mercado seja capaz de resolver. O comunismo, que julgaria ser essa questão solucionável pela ação do Estado, faliu.
É na social-democracia brasileira que se concentram as esperanças de uma solução original para essa novíssima questão. Sem pretender comandar as forças do mercado, os regimes social-democratas têm consciência de que cabe aos governantes criar as respostas para os desafios colocados pelo desenvolvimento. No Brasil não é diferente. É nos quadros da social-democracia brasileira que se encontram o bom senso, o equilíbrio e a experiência necessários para a promoção do desenvolvimento sustentado, de modo a reintegrar na atividade produtiva os que foram alijados de seus empregos e negócios.
Disposta a superar esse desafio, uma nova geração de políticos está se preparando no PSDB para disputar as eleições municipais. Essa geração, à qual me orgulho de pertencer, tem consciência de que quando o cidadão marginalizado precisa conseguir uma nova colocação ou abrir uma pequena empresa ele o fará não na esfera da União ou do Estado, mas na vida concreta de sua comunidade.
Por isso, venho defendendo que um programa de governo ideal para qualquer cidade, e em especial São Paulo, deva centrar-se em criar condições destinadas à multiplicação das ofertas de emprego e negócios. Sem prejuízo dos investimentos necessários à melhoria da saúde, educação, moradia, transporte e expansão da infra-estrutura é preciso modificar radicalmente o desenho das cidades em função do desafio lançado pela nova realidade econômica.
Essa proposta vai ao encontro das aspirações dos paulistanos. Recente pesquisa feita pela Companhia Brasileira de Pesquisa e Análise (CBPA) demonstra que hoje, em São Paulo, a preocupação com o emprego ocupa o primeiro lugar, suplantando saúde, transporte, moradia e segurança. Diante desse resultado, é compreensível que o povo esteja cansado dos políticos que apenas prometem. Apóia os que agem concretamente para melhorar a qualidade de vida. Os projetos executados pelo governador Mário Covas quando prefeito da capital são lembrados até hoje pelos diferentes setores sociais em dezenas de bairros de São Paulo. Com o presidente Fernando Henrique Cardoso não foi diferente: elegeu-se porque demonstrou ter sido capaz de derrubar a inflação sem apelar para mágicas heterodoxas ou congelamentos artificiais. Apenas com bom senso, visão social e muita obstinação.
Nessa linha, o grande desafio da marginalização social poderá ser facilmente enfrentado, sem apelar a visões de mundo que pertencem ao passado. Na minha proposta, o próximo prefeito de São Paulo não ficará se lamentando pelo aumento dos miseráveis e carentes gerados pelo desemprego, mas articulará uma parceria sólida e permanente entre governo e iniciativa privada para estimular o emprego e facilitar a abertura de novas empresas.
Por exemplo, se um grande banco vai intensificar sua informatização implementando uma nova tecnologia que suprimirá 10 mil empregos, qual deve ser o papel do prefeito? Simplesmente voltar as costas ao problema e inaugurar mais um túnel? Quem, senão os políticos, tem a responsabilidade de levantar essas questões nas cidades e buscar um leque de alternativas para que a modernização não seja feita à custa dos cidadãos que trabalharam a vida inteira e contribuíram para o crescimento de suas comunidades?
Isso deve se traduzir na atitude de um prefeito preocupado em estimular as grandes vocações de São Paulo, uma cidade que comporta cada vez mais empresas de serviços, atividade não-poluente e multiplicadora de emprego. Facilitar aos desempregados, pequenos empresários e aposentados a abertura dessas empresas é uma das prioridades da cidade. Aperfeiçoar o ensino técnico com o objetivo de preparar mão-de-obra específica para essas empresas é outra prioridade.
Tenho procurado, como integrante da equipe do governador Mário Covas, cumprir com o perfil exigido do novo governante: o empreendedor comprometido com uma posição ética e social frente às mudanças que vivemos. Assim, sem apelar para a guerra fiscal, este governo conseguiu assegurar que 40 conglomerados empresariais decidissem investir US$ 7,8 bilhões no Estado de São Paulo nos próximos dois anos, o que deverá gerar 120 mil novos empregos a médio prazo.
Essa é a visão necessária para vencer nas cidades o maior desafio a ser enfrentado pelas administrações municipais nesta virada de século.

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