São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996![]() |
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Sem-terra recuam e suspendem invasões
LUIZ MALAVOLTA
A decisão foi tomada durante assembléia realizada ontem, na sede da fazenda São Bento, em Mirante do Paranapanema (640 km a oeste de São Paulo), que reuniu cerca de 200 sem-terra. José Rainha Jr., líder do MST no Pontal, disse que a suspensão de novas ocupações não significa que o MST vá procurar o governo para novas negociações. "O MST não vai fazer por enquanto novas ocupações, mas pode iniciar esse processo a qualquer momento. Não há qualquer prazo nem recuo da nossa parte." Segundo ele, na quinta-feira passada o MST considerou rompido um acordo firmado com o governador Mário Covas (PSDB), estabelecido em 4 de novembro. Por esse acordo, o governador se comprometera a assentar 1.050 famílias até 31 de dezembro no Pontal do Paranapanema e outras 1.050 famílias até junho. O líder do MST disse que o governo não cumpriu esse acordo: "Em vez de entregar a posse definitiva das terras, o governo alojou essas famílias em áreas de terra de forma provisória, pois essas terras podem ser retomadas a qualquer hora pelos fazendeiros". Os sem-terra não concordam com a forma como foram feitos os assentamentos pelo Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) em 5.000 hectares de dez fazendas de Mirante do Paranapanema. Segundo Rainha, o Itesp não aceitou nenhuma das ponderações feitas pelo MST, nem concordou com as críticas de que o governo prometera um assentamento definitivo e acabou fazendo um "assentamento de emergência". Rainha disse que o MST pretendia fazer novas invasões a partir desta semana, porque já havia sido "quebrado" o compromisso de trégua firmado com Covas. Ontem, porém, a coordenação decidiu recuar e "dar um tempo". O líder do MST disse que o assentamento feito pelo governo era "uma enganação" e que as famílias eram tratadas "como gado". "Tanto é enganação que as famílias assentadas pelo governo estão abandonando as áreas, por total falta de condições de permanecerem lá." Segundo ele, as famílias foram jogadas em pastagens "sem comida, água e assistência por parte dos técnicos". "O Estado nos tratou a todos como se fôssemos animais. Ninguém vai querer essas terras desse jeito, porque as fazendas Arco-Íris e Santa Apolônia eram áreas já definidas para assentamentos de outras famílias", disse. Rainha disse que vai procurar hoje o secretário estadual da Justiça, em São Paulo, Belisário dos Santos Júnior, e dizer-lhe que o assentamento foi "um erro". Ele quer entregar ao secretário um documento com a assinatura de 200 famílias de pessoas assentadas pelo Itesp que abrem mão das áreas recebidas. "As terras cedidas são ruins para a lavoura e lá não existem condições mínimas de sobrevivência", afirmou Rainha. Texto Anterior: Relator pretende regular emendas "paroquiais" Próximo Texto: Governo nega abandono de lotes por sem-terra Índice |
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