São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Cientistas criam organismo cibernético

MARK WARD
DA "NEW SCIENTIST"

Eles podem não falar como o Hal de "2001, uma Odisséia no Espaço" nem ter a aparência humana do Kryten de "Red Dwarf", mas sob outros aspectos importantes os computadores que estão sendo projetados num laboratório suíço vão quase parecer seres vivos, segundo seus criadores.
Uma equipe de pesquisadores do Centro Suíço de Eletrônica e Microtecnologia e do Instituto Federal Suíço de Tecnologia projetou um computador capaz de crescer, reproduzir-se e recuperar-se de danos sofridos.
Tudo isso deverá ser possível porque o computador será feito de células de silício em branco (blank cells), que, sob alguns aspectos, se comportam como as células de um sistema biológico.
As células baseadas em silício se reproduzem copiando seu software para células vizinhas -mais ou menos como as células biológicas passam informações genéticas para a prole.
Desse modo, o computador cresce a partir de uma célula para preencher todas as células em branco numa pastilha de silício, embora não seja capaz de criar silício novo.
Cada célula é composta por uma coleção de portas lógicas esculpidas sobre uma pastilha de silício com superfície inferior a um milímetro quadrado.
Num computador convencional, essas portas geralmente vêm sob uma de três formas, dependendo da localização da porta no chip.
Mas os conjuntos de portas utilizados pelos cientistas suíços são mais flexíveis e podem adotar as características de qualquer porta lógica, mudando o software usado para dirigir-se a eles.
O "genoma" do software diz a cada célula onde ela está situada em relação ao "organismo" total, conferindo a ela uma autoconsciência básica.
Uma vez que conhece sua posição, a célula é capaz de deduzir qual é sua função no sistema mais amplo.
Assim, ela vai implementar apenas as seções do software que são apropriadas a sua posição.
As células se reproduzem copiando esse genoma de software a conjuntos vizinhos e vazios.
Se qualquer célula for danificada, as células que a cercam seguirão as instruções embutidas em seu genoma e irão se reconfigurar para funcionar como se a célula danificada não estivesse ali.
"Nós nos inspiramos no cérebro", diz Pierre Marchal, um dos cientistas que trabalham no projeto.
O cérebro não pode produzir tecidos novos; por isso tem de encontrar novos caminhos, dando as costas às conexões danificadas.
Marchal diz que essa capacidade de curar-se torna os computadores baseados em células ideais para ambientes que são nocivos aos humanos -ou onde é impossível reparar danos.
Sondas espaciais ou equipamentos de sondagem submarina profunda, por exemplo, poderiam servir como teste para esse avançado organismo cibernético.
Até agora os pesquisadores construíram células que se reproduziram e também simularam um microprocessador inteiro composto das células, sobre um computador convencional.
"As células são tão poderosas como um computador convencional porque pode-se implementar qualquer computador com elas.
A única diferença é que serão maiores", diz Marchal. A longo prazo, essa flexibilidade poderia possibilitar a melhoria de conjuntos idênticos de células produzidas em massa, para qualquer aplicativo de computador, variando o genoma do software.
A célula foi patenteada e as duas equipes de cientistas querem descobrir como a mutação e a evolução podem melhorar o design de sua criação.

Tradução de CLARA ALLAIN

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