São Paulo, quarta-feira, 3 de janeiro de 1996
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Usuários fiéis se agarram a seus velhos computadores

LESLIE MILLER
DO "USA TODAY"

Jim Brain não liga para a palavra "obsoleto". Ele gasta boa parte de seu tempo livre ajudando pessoas a lidar com computadores que outros jogaram fora.
"Eles só são obsoletos porque o mundo das corporações mudou", diz Brain, projetista de software, consultor da Internet e especialista no Commodore 64, um computador doméstico lançado em 1983.
Brain conhece muita gente que ainda usa Commodore e outros computadores antigos para jogar, escrever cartas e até para administrar pequenos negócios. "Não vejo por que dizer que uma máquina já não é boa se ela satisfaz suas necessidades", diz ele.
Os Commodore, Apple 2, Atari de 8 bits e outros computadores desenvolvidos no final dos anos 70 e início dos anos 80 são dinossauros em um mundo em que a tecnologia muda tão depressa que os modelos hoje considerados topo de linha podem parecer quase inadequados em questão de meses.
Os fabricantes de computadores, é lógico, adorariam ver as pessoas gastando milhares de dólares em novos modelos. Mas usuários fiéis como Brain, 24, de Fenton, Michigan (EUA), querem mostrar ao mundo que suas velhas máquinas, muitas vezes compradas por menos de US$ 100, "ainda têm muita vida útil".
Estima-se que milhares de pessoas ainda utilizem esses e outros tipos de computadores "órfãos" de seus fabricantes.
Mas isso não quer dizer que não exista assistência. Há várias empresas especializadas na venda de hardware e software novo e usado para velhas máquinas, e grupos de usuários, locais e on line, dispostos a auxiliar seus proprietários.
"O melhor que essas pessoas têm a fazer é arrumar um modem", diz Léon Stys, que dirige o grupo Cleveland Freenet, especializado em Atari, que recebe cerca de 200 mensagens de correio eletrônico por semana.
"Quando tiverem um modem, descobrirão que existe bastante assistência on line", diz ele.
Muitos usuários incrementaram seus equipamentos com discos rígidos, impressoras e até CD-ROM e scanners avulsos.
Alguns podem se perguntar por que alguém iria querer um velho dinossauro, já que os computadores novos são mais poderosos.
Uma razão é o dinheiro. "Alguns donos de computadores órfãos ficam com eles porque não querem gastar US$ 2.000 a cada dois anos", diz Stys.
Para alguns, adotar órfãos é quase uma questão de princípio. "É mais ou menos como torcer pelo mais fraco", diz Rob Funk, estudante de engenharia elétrica na Universidade Estadual de Ohio.
Ainda que os adeptos do "faça-você-mesmo" adorem ficar remendando hardware, "a razão para se manter um velho computador tem a ver com o software", diz Adrian Vance.
Vance dirige a AV Systems Inc., uma produtora de software para Apple 2 localizada em Santa Barbara, na Califórnia. Ele estima que 1,4 milhão de computadores Apple 2 ainda sejam utilizados.
"Há um certo charme em usar uma coisa que foi lançada antes que os PCs fossem inventados", explica Michael Current, bibliotecário (e ex-estudante de ciências da computação) no Carleton College de Orthfield, Minnesotta.
Current, 24, diz que se sente à vontade usando qualquer computador -"mas só tenho Ataris".
Ele os utiliza para processamento de textos domésticos e para fazer funcionar de 200 a 300 jogos.
"Ainda acho que os jogos feitos nos velhos computadores Atari são muito mais divertidos", diz.
São também muito mais baratos -a maioria custa apenas US$ 5, embora algumas das 10 mil ou mais aplicações disponíveis custem entre US$ 15 e US$ 20.
Os órfãos não são para qualquer um -"não são exatamente do tipo 'liga na tomada e funciona'", admite Brain. Mas ele sabe que seus usuários são leais. "Enquanto essa gente existir, os velhos computadores sobreviverão."

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