São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Líderes da igreja cobram no ar apoio dado a FHC

ANA MARIA MANDIM; CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Universal está cobrando de políticos que diz ter ajudado a eleger apoio para enfrentar as supostas "pressões" da Rede Globo. Entre esses políticos está o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador de São paulo, Mário Covas (PSDB-SP).
Durante o programa "25ª Hora" de terça-feira, da Rede Record, os bispos Carlos Rodrigues e Honorilton Gonçalves, e o pastor Ronaldo Didini sugeriram, com ironia, que, nas próximas eleições para presidente, a Universal poderá apoiar candidatos de esquerda.
Os ex-candidatos a presidente Leonel Brizola (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram citados pelos dirigentes da Universal. Gonçalves disse ontem à Folha que, em 1994, a Universal recomendou a seus fiéis que votassem em Fernando Henrique Cardoso, em Marcello Alencar, governador do Rio de Janeiro, e em Paulo Maluf, prefeito de São Paulo.
Segundo Gonçalves, FHC procurou a Universal antes de começar a subir nas pesquisas de opinião. "Tivemos uma reunião na casa do pastor Didini, em que estavam Fernando Henrique e José Serra (ministro do Planejamento), além de mim, do dono da casa e de uma quinta pessoa de quem não me lembro".
Rodrigues disse que os evangélicos votaram "em massa" em Fernando Henrique Cardoso porque acreditavam que, por ter sido perseguido, ele não permitiria que a liberdade religiosa fosse coibida. "E hoje estamos vendo aí um grupo que diz que quer ficar 20 anos no poder permitindo essa calhorda perseguição contra nós."
A FHC e ao vice, Marco Maciel, Rodrigues perguntou como a Universal poderá defender, nas próximas eleições, "certas idéias liberais e de direita ou de centro" nas igrejas. "Uma de nossas bandeiras sempre foi que o socialismo iria nos perseguir, e, hoje, estamos vendo que a Rede Globo usa o poder instalado para nos perseguir".
Didini foi mais direto em seu recado aos políticos. "A TV Globo ainda tem o poder de divulgação, mas nós temos o poder de mobilização. Senhores políticos, não venham bater às nossas portas à época das eleições porque vocês vão ganhar também um verdadeiro não."
Gonçalves, apresentador do "25ª Hora", disse que estava "doido" para conhecer Brizola e Lula. Gonçalves afirmou que os líderes da Universal foram "realmente muito tolos" em não procurar outras correntes.
À Folha, Gonçalves disse que as palavras dirigidas aos políticos foram apenas um "desabafo". Segundo ele, a Universal está preocupada com as pressões que a Globo faz no governo.
O bispo afirmou que, politicamente, a Universal "não tem camisa, não tem nada fechado com ninguém e será amiga de quem for amigo".
Reunião
Covas recebeu, de fato, o apoio da Universal no pleito de 1994 porque, eleito, iria "defender a Igreja Universal de perseguições injustas". A afirmação aparece na "Folha Universal" -jornal oficial da igreja- dias antes das eleições.
Assim como o então candidato ao Senado pelo PSDB e hoje ministro do Planejamento, José Serra, Covas chegou a participar de uma reunião da Universal no parque Boa Vista, em São Paulo. Duarante a cerimônia, ambos foram chamados ao púlpito pelo pastor Ronaldo Didini e apresentados como os candidatos da Igreja Universal.

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