São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Excesso de gás gerou erupção de lago em 86

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um pesquisador da Universidade de Michigan (EUA), Youxue Zhang, demonstrou como mais de 1.700 pessoas morreram em 1986, quando uma nuvem de gás asfixiante brotou do lago Nyos, na República dos Camarões, África.
Essas pessoas foram vítimas de uma espécie de "club soda assassino". O lago Nyos está sobre uma cratera vulcânica e suas águas são saturadas de gás carbônico, o gás que borbulha inocente em todas as garrafas de refrigerante.
Mas, quando uma quantidade de água está saturada de gás, ao haver uma descompressão, pode haver uma erupção explosiva, semelhante a uma explosão vulcânica.
A tragédia pode acontecer de novo, bastando o fundo do lago ter uma concentração do gás suficiente e algo acontecer para jogar esse gás para fora.
"Nós agora reconhecemos que as erupções em lagos (ou erupções límnicas) são similares em muitos aspectos às violentas erupções vulcânicas, já que ambas acontecem pelo relaxamento do gás de um líquido, gás carbônico na água nas erupções límnicas e vapor d'água no magma em erupções vulcânicas violentas", disse Zhang à Folha.
O trabalho de Zhang está publicado na edição de hoje da revista "Nature".
Durante algum tempo foi um mistério a tragédia do lago Nyos. Os habitantes em torno falavam de nuvens de gás que brotavam do lago, e a região tem lendas sobre lagos que explodem.
O novo trabalho mostra como isso acontece. Algo semelhante a uma tromba d'água sai de repente da superfície do lago, como a champanhe de uma garrafa que tinha sido sacudida.
A "tromba" inclui o gás, que vai rapidamente deslizando pela superfície do lago até as regiões nas margens.
O gás carbônico é mais pesado que o oxigênio, por isso vai se concentrando na superfície. Essa nuvem vai matando por asfixia os animais -mas não as plantas- pelo caminho, que pode ser de vários quilômetros, no caso do Nyos.
"Eu não acho que o mecanismo exato da erupção de 1986 vai algum dia ser conhecido, nem é muito importante, porque o mecanismo de disparo é algo ao acaso: pode ser terra caindo, afundamento de água fria, uma onda interna, uma pequena injeção vulcânica de gás carbônico etc.", afirma o pesquisador.
(RBN)

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