São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Mirra dada a Jesus é analgésico, diz equipe

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A ciência descobriu, quase 2.000 anos depois, o segredo de um dos presentes que a Bíblia diz que Jesus Cristo recebeu dos três reis magos. Uma equipe italiana relata na edição de hoje da revista "Nature" as qualidades analgésicas da mirra, uma resina produzida por árvores da África do Norte.
A mirra era usada pelos antigos egípcios no processo de embalsamar suas múmias e, entre os judeus, era conhecida como um unguento. Gregos e romanos a utilizaram como remédio em feridas e infecções, o que já dá uma pista de seu valor terapêutico.
Cristo teria ainda tido outro contato com a substância, mencionado pela Bíblia. Vinho misturado com mirra foi oferecido a ele antes da crucificação.
A equipe de nove pesquisadores, liderada por Piero Dolara, do Departamento de Farmacologia da Universidade de Florença, começou testando uma suspensão feita com a mirra em camundongos.
O método consistia em colocar os bichos em uma chapa de metal com temperatura de 52°C e checar o tempo que eles levavam, incomodados pelo calor, para lamber as patas.
Os camundongos que tinham recebido mirra antes do experimento levaram em média 19,4 segundos para lamber as patas, contra 14,4 segundos dos que não tinham recebido a suspensão.
Depois de verificar o efeito, os pesquisadores foram identificar e purificar os compostos presentes na mirra, responsáveis pela analgesia. Eles encontraram três compostos do tipo que os químicos chamam de "sesquiterpenos".
Dois deles, injetados separadamente nos animais, tiveram efeito analgésico. Um deles, dizem os pesquisadores, ainda merece ser melhor investigado na tentativa de descobrir aplicações clínicas.
É possível que essas aplicações práticas tenham o mesmo destino que a própria mirra, não purificada, teve, na história da medicina. Compostos derivados do ópio, como a morfina, foram substituindo a mirra como analgésico.
No cérebro humano, os caminhos bioquímico-sensoriais que levam à analgesia são hoje conhecidos como "opióides" (e não "mirróides"). Os dois "sesquiterpenos" identificados na mirra parecem ter, diz a equipe italiana, uma interação com esses mecanismos cerebrais opióides.

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