São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Ótica de diretor baliza a análise de Possolo

DA REPORTAGEM LOCAL

Hugo Possolo é diretor de teatro e dramaturgo. Ele escolheu uma das dez peças da lista proposta no exame de habilidades específicas de artes cênicas de 1995 e respondeu-a de acordo com as especificações da prova teórica.
A peça escolhida foi "Rasga Coração", de Oduvaldo Vianna Filho. Após uma análise geral da obra, Possolo elaborou uma análise específica a partir da ótica do diretor de teatro.
Análise geral -"Rasga Coração", último texto escrito por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, é um marco da dramaturgia brasileira.
A peça narra a história de Manguari Pistolão, confrontando sua juventude revolucionária, na época de Getúlio Vargas, com seu cotidiano durante a ditadura militar.
Seu filho chama-se Luca, de Luís Carlos, em uma homenagem de Manguari ao líder comunista Luís Carlos Prestes.
Luca nada tem de revolucionário em suas atitudes. Ele tende a se aproximar da postura hippie. Nasce aí o conflito.
Apesar do engajamento político explícito do autor, que poderia levar a visões maniqueístas da realidade, todos os conflitos expostos têm uma visão sobre a humanidade, de erros e acertos, de emoção e razão, que dão à obra um significado amplo.
Todas as cenas são fragmentadas em épocas distinas, onde passado e resente fundem-se através das personagens, dos temas e da canções.
As ações desenvolvidas, dispostas como estão em sua estrutura, não se desvinculam em nenhum momento da trajetória de Manguari, como se o pensamento do autor penetrasse em seu universo particular.
Todos os recursos utilizados pelo autor desvendam uma forma de escrever o texto teatral voltada aos temas abordados com enorme dimensão lírica das situações.
A partir das posições de ianinha, passamos a nos conhecer melhor e a refletir com maior profundidade sobre os nossos gestos mais banais.
Análise específica
Optei por direção. Uma montagem de "Rasga Coração", hoje, seria uma visita à história recente do país, levando-se em conta as necessidades do presente.
Uma das preocupações do autor era a de revelar como é frágil o homem comum, praticamente isolado em suas atitudes.
Ao mesmo tempo, deixa-se clara a noção de que a sociedade, como um todo intocável e fora do contle individual, pode ser forte.
Este conflito entre indivíduo e sociedade traz à encenação diversas necessidades expressas.
Tais necessidades se traziriam em uma interpretação não-psicológica das personagens, em uma divisão espacial que elucide e envolva o público e em uma pesquisa musical que traga o valor cultural dos diversos fragmentos de canções do texto.
Um tratamento visual que nos transporte às épocas abordadas também seria necessário.
É preciso, ainda, relacionar a peça com os dias de hoje, sem tratar o passado como um achado arqueolóco e sem vida.
Eu gostaria de definir junto a cada intérprete a trajetória de cada personagem, para definir as emoções ou pensamentos que o autor e o ator esperam passar ao público.
Assim, cada ator defenderia suas intenções em cena, não pela ótica de uma personagem, mas pela visão das pretensões do espetáculo como um todo.

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