São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Formadores de opinião

VICENTE AMATO NETO

Existem pessoas que desenvolvem atividade destinada a tentar estabelecer nas mentes de outras o que desejam, ou seja, procurando convencer influenciáveis a agirem ou pensarem como elas. São os formadores de opinião, designados em língua inglesa, com muita felicidade, como "opinion makers". Agem altruisticamente, mas podem também corresponder a idealistas ou profissionais, neste último caso buscando obter vantagens individuais, como ainda de naturezas religiosa, política e até comercial.
Tais figuras atuam em múltiplas áreas; todavia, animei-me a comentar como alguns influem no contexto médico-assistencial, atendo-me então a setor que, provavelmente, conheço melhor. Nesse campo, os tipos são diversificados e a seguir consigno exemplos: a) participação como funcionário de empresa, farmacêutica ou vinculada a utilidades várias e equipamentos, não perdendo oportunidades para insinuar preferências em atos diagnósticos e terapêuticos, quando exercem trabalhos em instituições públicas ou privadas; b) acordo com firmas para serem conferencistas privilegiados, mesmo que escamoteadamente; c) recebimento de ajuda material para comparecimento a reuniões didático-científicas e a Congressos, de forma não meramente cooperativa e sim configurando benesse ou mecanismo apto a conduzir mensagem; d) elaboração de textos para periódicos pseudocientíficos, que são publicados em quantidade razoável e, tendo tiragens volumosas, difundem fatos não rigorosamente avalizados por Comitê Editorial isento e competente; e) permissão para figurar no Conselho desses veículos, com o fito de nutrir vaidade ou conceder respaldo fictício, de molde a falsamente valorizar o conteúdo das matérias comunicadas.
Essas são apenas determinadas ilustrações de condutas calcadas na obtenção de vantagens e inaceitáveis no contexto do correto e sadio trabalho vinculado à da Medicina. Impõe-se coibir essas impropriedades, adotando normas segundo as quais auxílios, frequentemente indispensáveis e verdadeiramente úteis, quando aceitáveis sob a égide da ética, sejam oferecidos a instituições, a fim de que elas criteriosamente executem as dispensações. Esse pode constituir um caminho no bojo das providências tendentes a eliminar ou arrefecer a ação dos quase sempre inconvenientes, quando mal-intencionados, formadores de opinião.

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