São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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24 horas de dor

CARLOS SARLI

Os primeiros 15 segundos são acelerando com os "poles" e patinando, usando todo seu corpo para ganhar velocidade. Mais 30 segundos encolhendo-se em forma de projétil, e suas coxas começam a queimar. Assim que a velocidade se aproxima dos 130 km/h, é difícil ignorar o fogo nos músculos.
Quando você chega ao fim da montanha -cerca de dois minutos- e manobra para parar seu esqui, você pode finalmente sentar e dar descanso aos seus extenuados músculos. É novamente assim, até fazer a mesma coisa 15 minutos mais tarde. E, novamente, repetidamente, nas próximas 24 horas.
Assim Scott Nichols, diretor de competição e três vezes participante, descreveu o Land Rover 24 Hours of Aspen World Champion of Endurance Skiing, disputado entre 11 e 12 de dezembro.
A sétima versão do campeonato contou com 20 homens e mulheres de 7 países. Duplas dos EUA, Canadá, Suíça, Alemanha, Áustria, Inglaterra e Argentina, sendo uma delas formada por gêmeas norte-americanas, que, apesar de não terminarem a prova devido a uma contusão no pescoço de uma delas, fizeram sucesso com um pôster sexy que levantou um bocado de dinheiro para caridade.
Outro fato interessante, no autêntico espírito "o importante é competir", foi o canadense que teve o parceiro desistente no meio da prova e preferiu terminar só.
A dupla vencedora neste ano completou 79 descidas na montanha, cerca de 80 km esquiando. Os vencedores foram os austríacos Alex Naglich e Chistopher Remdle, seguidos pelo time norte-americano de Aspen e o da Suíça.
Durante muitos anos, maratona foi sinônimo de competição esportiva de resistência. Reinou absoluta como prova de encerramento das Olimpíadas. Mais recentemente, o triatlo, especificamente o Ironman realizado no Havaí, pôs a maratona no chinelo, ao somar 3,8 km de natação e 180 km de ciclismo aos 42 km de corrida. Em comum, esses esportes têm a respiração aeróbica. Constante e coordenado, cabe ao atleta dosar bem suas forças ao longo da prova.
As 24 Horas de Aspen diferem das provas clássicas de resistência. Com cerca de três minutos altamente anaeróbicos sobre os esquis, intercalados por 15 minutos de descanso (o tempo que a gôndola leva para chegar ao cume da montanha), o atleta não pode perder a concentração competindo contra o cansaço muscular, neve caindo, temperaturas abaixo de zero e alta velocidade. Escolha!

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