São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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'A Maracutaia' adapta Maquiavel ao Brasil

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Peça: A Maracutaia
Adaptação e direção: Miguel Falabella
Com: José Wilker, Othon Bastos, Thelma Reston, Giuseppe Oristânio, Mônica Torres, Luiz Salem
Onde: Palace (al. dos Jamaris, 213, Moema, região Sul, tel. 011/531-4900)
Quando: estréia hoje; sextas, às 21h, sábados, às 22h, e domingos, às 20h30
Quanto: R$ 15 a R$ 50

A peça "A Maracutaia", dirigida por Miguel Falabella, chega hoje a São Paulo, depois de ficar um ano em cartaz no Rio e percorrer 28 cidades brasileiras. Segundo José Wilker, que encabeça o elenco, o público acumulado é de quase 200 mil espectadores.
Apesar do título, não se trata de um texto contemporâneo. "A Maracutaia" é a adaptação -de Falabella- para o clássico "A Mandrágora", comédia renascentista do italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527).
É a volta de Wilker a São Paulo como ator após uma ausência de 25 anos. "Desde 1971, quando encenei 'O Arquiteto', sempre estive para voltar, mas nunca houve oportunidade", afirma.
Saindo da encenação do drama sobre nazismo "Mefisto", Wilker queria, em 1994, montar algo mais leve. Recebeu a sugestão do ator Giuseppe Oristânio, que havia participado de montagem de "A Mandrágora" com o grupo Tapa, em São Paulo.
Wilker gostou e propôs que Miguel Falabella dirigisse. Acostumado a trabalhar textos contemporâneos, ele preferiu atualizar o texto de Maquiavel. Falabella transpõe a história do ambiente de poder da Florença do século 16 para o que considera seu equivalente nacional atual: Brasília.
"Nesses 500 anos, mudaram os acontecimentos, mas o ser humano não muda nunca", diz Oristânio, que interpreta Calímaco, o espertalhão que usa os "poderes mágicos" da planta mandrágora -devidamente rebatizada maracutaia- para seduzir Lucrécia (Mônica Torres), mulher de um típico coronel nordestivo (Othon Bastos).
Em torno desse conflito movimentam-se tipos como o lobista inescrupuloso (Wilker), a sogra parasita (Thelma Reston) e o padre fútil (Luiz Salem).
O resultado da releitura, segundo o elenco, é pura diversão. "Não temos compromisso de revolucionar absolutamente nada, apenas queremos ser populares", diz Wilker. "Fazemos isso atacando, desrespeitando e agredindo o conceito de que o poder no Brasil existe não em favor da população, mas em torno de si mesmo."
Para Othon Bastos, "A Maracutaia" reflete o percurso que o Brasil tomou desde os anos 60. "Agora, não se sabe mais quem é o inimigo, ele é reduzido a um grampo, a uma figura palaciana, não há um governo militar que se possa combater com entusiasmo", diz.
Para ele, o Brasil perdeu "assustadoramente" com isso: "Era mais fácil trabalhar na época da ditadura. Depois, houve fases em que as pessoas saíam correndo se você ousasse falar de política. Agora, o assunto está voltando, mas só se usar o vetor do riso".

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