São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Sivam para quê?

A polêmica do caso Sivam corre o risco de perder-se num cipoal de questões menores e deixar de lado o que deveria orientar a discussão em torno do controvertido projeto. Trata-se de definir se o sistema é ou não necessário para o país, como mostrou, em artigo nesta Folha, o renomado major-brigadeiro-do-ar reformado e engenheiro Aldo Vieira da Rosa, hoje professor emérito da Universidade de Stanford (EUA).
Contra o projeto, não há por que adotar teses conspiratórias ou xenófobas contra o perigo de ingerência do EUA em assuntos brasileiros. Afinal, para fazê-la há outros meios tão ou mais eficientes, e menos onerosos. Quanto à alta lucratividade que o negócio propiciaria à Raytheon, não há razão para estranhar o apoio oficial, pois, como qualquer governo, também o norte-americano deseja apoiar as empresas de seu país. A questão, para o Brasil, é se os serviços prometidos são de fato essenciais.
A favor do projeto, parece inócuo invocar as necessidades de manter a credibilidade internacional do Brasil. A esse respeito, o brigadeiro Aldo Rosa é taxativo quando afirma: "(...) Se cancelarmos este contrato, não faltarão outras propostas americanas ou européias para a implantação de outros monumentos no Brasil. Quanto maior, melhor".
Se os próprios EUA ainda não conseguem coibir, com mediana eficiência, o tráfico de drogas (um dos itens visados pelo projeto), e se já existem hoje outros meios bem mais baratos de controle do tráfego aéreo, parece cada vez mais premente que, na ausência de uma clara justificativa de sua finalidade, o Sivam seja desqualificado como prioridade de governo.

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