São Paulo, quinta-feira, 4 de janeiro de 1996
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Especulação precoce

As Bolsas, é costume dizer, sobem no boato e caem no fato. A alta recente nas Bolsas brasileiras (a Bovespa fechou ontem com alta de quase 7%) desafia até mesmo essa conhecida filosofia de pregão. Não há boatos relevantes e, no horizonte dos fatos, desde meados de dezembro o cenário local é o mesmo.
Mudanças importantes houve, de fato, no cenário externo, tais como a rodada de redução de juros na Europa e nos Estados Unidos, a superação da crise entre Menem e Cavallo, acompanhada de uma reversão do déficit público, e mesmo a percepção de que o pior da crise mexicana talvez já tenha passado. A alta recorde em Wall Street em 95 também é fator de otimismo.
No Brasil, entretanto, o máximo que se pode dizer até agora é que vale outra conhecida máxima cultivada pelos investidores: "no news is good news" (nenhuma notícia é uma boa notícia).
Instaurou-se um vácuo político com o retorno do presidente FHC de seu périplo asiático. Como as políticas de juros e câmbio ficaram onde estavam, apenas nesse vácuo de fatos novos pode-se compreender a "carona" que as Bolsas brasileiras tentam pegar na onda de euforia em outras praças.
Mas a economia e principalmente a política, como a natureza, têm horror ao vácuo. Resta esperar pela retomada da atividade parlamentar para saber se a nova alta nas Bolsas tem sustentação. Caso contrário, o único fato terá sido mais um espasmo de especulação precoce.

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