São Paulo, sexta-feira, 5 de janeiro de 1996 |
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Obras antienchentes consumiram R$ 1 bi
CLAUDIO AUGUSTO
Para o geólogo Agostinho Ogura, do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), falta coordenação entre o Estado e a prefeitura. "Se o problema é tão grave, você tem que mobilizar Estado e municípios. Tem que checar o mérito das obras. Essa ligação não está sendo feita", disse o geólogo, que também coordena o Grupo de Estudos de Acidentes Naturais do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo). Compete ao Estado desassorear (desobstruir por meio da retirada de terra ou sedimentos) e aprofundar as calhas do Tietê e Pinheiros, os principais rios da bacia hidrográfica que corta a Grande SP. Desde 1993, o governo estadual já gastou R$ 60 milhões no desassoreamento do Tietê. A informação é do superintendente do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), Ivan Whately. O contrato assinado na gestão Fleury, segundo Whately, determinava o pagamento de R$ 20 por metro cúbico removido do Tietê. Agora, o Estado paga às empresas R$ 3,40 por metro cúbico de material retirado do rio. Segundo Whately, a redução de custo se deve à mudança de técnica no desassoreamento do Tietê. A prefeitura, desde a gestão Jânio Quadros, canalizou 27 km de córregos, construiu o piscinão do Pacaembu (um reservatório de água antienchente) e investiu em 60 outras obras na cidade. Nisso tudo o governo municipal consumiu cerca de R$ 900 milhões. Com dinheiro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a prefeitura espera continuar o programa de canalização. Ogura propõe a elaboração de um plano de combate à enchente para a Grande São Paulo. Só depois de ouvir a comunidade técnica, Estado e prefeitura decidiriam no que e onde investir. Se for o caso, os municípios da Grande São Paulo e o governo estadual podem constituir uma agência metropolitana para tratar do combate às enchentes. Caberia a esse órgão priorizar os investimentos. Segundo Ogura, essa medida racionalizaria o esforço do Estado e das prefeituras no combate às enchentes e daria mais resultado com menos dinheiro. Uma das medidas sugeridas pelo técnico do IPT é a adoção de calçamento mais permeável na cidade. Em vez de apenas cimento, ele propõe o uso de cimento e grama -como em um jardim. Segundo ele, 70% de permeabilidade (capacidade de absorção da chuva pelo chão) é um índice razoável. As calçadas teriam 70% de grama e apenas 30% de cimento. Isso reduziria o volume de água que vai para o Tietê e o Pinheiros. Mesmo assim, a calha do Tietê precisaria ser aprofundada. Whately afirmou que, até o fim do ano, o Estado começa as obras de aprofundamento da calha do rio Tietê. O contrato para obter US$ 300 milhões dos japoneses para as obras foi assinado em julho de 95. Com o aprofundamento da calha do Tietê, que levará dois anos para ser concluído, a vazão do rio dobrará de 700 m³ por segundo para 1.400 m³ por segundo. Texto Anterior: 'Não houve tempo para o socorro' Próximo Texto: Urbanização piora consequências Índice |
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