São Paulo, sexta-feira, 5 de janeiro de 1996
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Matthew Modine estrela 'Ghost' canino

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Lembranças de Outra Vida
Produção: EUA, 1995
Direção: Carlo Carlei
Elenco: Matthew Modine, Eric Stoltz, Nancy Travis
Onde: cines Metro, Astor e circuito

Religiões do remoto Oriente acreditam na transmigração da alma: depois da morte, o sujeito pode reencarnar numa árvore, depois num pássaro, depois num animador de TV -não necessariamente nessa escala descendente.
Ao encaixar a fórceps essa bela crença nas convenções do melodrama mais rasteiro, Hollywood conseguiu transformá-la numa das coisas mais ridículas do mundo.
Para ter uma idéia do que é "Lembranças de Outra Vida", imagine um "Ghost" em que o marido morto volta, mas não como espírito, e sim como cachorro. É isso mesmo: Tom Johnson (Matthew Modine), um rico desenhista industrial, morre num acidente de carro e reencarna num vira-lata, batizado de Fluke.
Depois de escapar da carrocinha e de um malvado que quer usá-lo como cobaia, Fluke/Tom lembra onde está sua família da vida anterior e vai até ela.
Nesse périplo acontecem as cenas mais cômicas do filme -todas concebidas para ser sérias, evidentemente. Numa delas, o pequeno Fluke pega um telefone de teclas e liga para sua viúva (Nancy Travis). Ela atende do outro lado e só ouve grunhidos na linha, pensando tratar-se de um trote.
Em outra cena, quando Fluke já se instalou em sua ex-casa, agora como cãozinho de estimação de seu filho, ele entra sorrateiramente no quarto da viúva e deita-se na cama a seu lado. Uma espécie de versão canina de "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
Tendo reconquistado a proximidade com seus entes queridos, só falta a Tom/Fluke conseguir mostrar a eles quem ele é. E acredite: ele consegue.
Isso abre um campo de possibilidades para todos nós. Quando um cachorro se aproximar de você abanando o rabo, ele pode estar dizendo: "Sou eu, seu tio Quinzinho; não me reconhece, ingrato?". Não é uma maravilha o cinema?

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