São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Fiéis repudiam 'perseguição'

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Ei, ei, ei, Jesus é nosso rei", ecoava por todo o Anhangabaú, na "Marcha Pela Paz" organizada pela Igreja Universal do Reino de Deus. "A vitória é nossa, é do povo de Deus", foi o tom da manifestação, que reproduziu o que acontece nos templos e ao vivo pela Rede Record. Novidades? Poucas. "A glória é do povo de Deus", "Roberto Marinho, aceite o senhor enquanto é tempo". Levas e levas de fiéis chegavam cantando, trazendo espadas, cornetas e bandeiras brancas. "Vou dar a volta por cima", "eu tenho a vitória, eu sei que ela é minha", "se o inimigo é feroz e o mundo cruel, Deus é maravilhoso e Jesus é fiel". Música, aquela catarse, todos os ritmos, do sertanejo ao rock, do forró ao rap, os depoimentos, "era viciado em drogas, cigarros, até encontrar Jesus". Todas as idades representadas, garotas de walkman e jeans apertados, crianças tocando cornetas, caras pintadas com "Jesus & Paz". Jesus em todos os dizeres, palavras de ordens, refrãos, "nosso general de guerra, em todas as batalhas, é sempre vitorioso".
A maioria de roupa branca, inspirando-se na "Marcha pela Paz" do Rio de Janeiro. Nas camisetas, bonés, faixas, a grife Jesus, "100% Jesus", "Jesus se importa com você", "Jesus the best". Nos cartazes, a revolta. "TV Globo 30 anos perseguindo os evangélicos", "abaixo a Rede Globo, a gente não é bobo", "quem quer acabar conosco? Plim, plim", "bispo Macedo, estamos em oração", "ordem e progresso, os evangélicos crêem nisso".
A preocupação em passar a mensagem de não se tratar, apenas, de uma manifestação da Universal, mas de repúdio à perseguição religiosa. Pastores da Universal, da Assembléia de Deus, da Igreja Batista, rabinos são chamados ao palanque, "hoje é a Universal, amanhã pode ser outra". "Você decide, Jesus ou Barrabás". A lembrança constante da pregação do evangelho aos despossuídos, presidiários, efêmeros, "Jesus te ama, e eu também".
A Igreja que despreza os símbolos, usa e abusa dos refrãos, citações, "tenha intimidades com Ele e verás que será libertado", me dizem. Incrível a capacidade de mobilização. Incrível as variações de lemas e rimas com a palavra Jesus. A Universal sabe o que faz, sabe como falar aos fiéis, surpreende por sua popularidade. Talvez por isso, assuste.
Durante os discursos, o povo se aquieta. Alguns rezam. Respeito a seus líderes, que abençoam o presidente da República, os ministros, todos os políticos, "estamos aqui clamando justiça, não queremos promover a guerra, queremos a paz, aleluia...". Cantam o Hino Nacional.
Em cada discurso, a mensagem subentendida, "fomos martirizados pela mídia, é uma inquisição, um linchamento, antes, as fogueiras, agora, as infâmias, meu Deus, toque no coração do pessoal da mídia". Do palanque, a explicação para tanta polêmica, "somos atacados porque não nos conhecem, só queremos liberdade para anunciar Sua palavra."
Chove. Ninguém arreda pé. A chuva vira metáfora: "Quando começa a chuva, você não procura abrigo? Jesus é o abrigo".

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