São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996 |
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Juros baixos no exterior atraem 475 instituições brasileiras entre 90 e 95
FERNANDO RODRIGUES
A Folha obteve cópia da listagem e a publica na próxima página. As 475 instituições conseguiram empréstimos que totalizaram US$ 30.847.890 de janeiro de 90 a 31 de agosto de 95. Essa cifra equivale, aproximadamente, ao custo da construção de duas obras similares ao Eurotúnel, que liga a França e o Reino Unido sob o canal da Mancha. Juro baixo Um brasileiro que comprou uma TV e pagou a prazo enfrentou uma taxa de juros, em dólares, de até 150% ao ano no Natal passado. Já esse seleto grupo de 475 instituições captou mais US$ 30 bilhões em cinco anos e pagou juros sempre menores de 15% ao ano. Na maioria, os juros pagos ficaram entre 10% e 11% ao ano. Enquanto a maioria dos brasileiros e das empresas do país estão à míngua atrás de financiamento barato, essas 475 instituições ganham dinheiro de, pelo menos, três formas: 1) Tomando emprestado no exterior e repassando o dinheiro a juros mais altos internamente. Quem faz isso, basicamente, são as instituições financeiras, muitas vezes financiando importação e exportação; 2) Usando o dinheiro do exterior para fazer reformas em suas instalações, as empresas dizimam suas concorrentes que não têm acesso aos juros baixos. 3) Colocando o dinheiro captado no exterior em alguma aplicação financeira no Brasil; Exemplo Fica fácil entender que é um bom negócio pedir emprestado no exterior quando se observa um exemplo hipotético. Uma determinada empresa toma emprestado US$ 1 milhão no exterior no início de 95. Hoje, depois de um ano, com um juro de 10%, estaria devendo US$ 1,1 milhão. Como essa empresa converteu o dinheiro para reais, em 2 de janeiro de 95 tinha R$ 843 mil. Se tivesse colocado o dinheiro em um dos investimentos mais conservadores do Brasil, a caderneta de poupança, o valor teria saltado para R$ 1,178 milhão -considerado o rendimento dessa aplicação em 95, que foi de 39,74%. Ao converter de novo os reais para dólares, a empresa do exemplo do parágrafo anterior teria US$ 1,212 milhão no final de dezembro de 95. Como gastaria apenas US$ 100 mil para pagar o juro anual ao credor estrangeiro, sobraria em seu caixa US$ 112 mil -lucro bruto, do qual se deduzirá impostos e taxas. Evidentemente que não existe uma empresa que capte US$ 1 milhão para aplicá-lo em caderneta de poupança no Brasil. Nem uma operação desse tipo é desprovida de custo: a empresa tem de pagar impostos e uma taxa de administração para outra que lança seus papéis no exterior. O documento do BC não especifica o custo total da operação, com taxa de juros mais despesas de emissão dos papéis para captar no exterior. Mas a diferença entre o juro brasileiro e o cobrado internacionalmente é tão grande que é impossível não sair lucrando. O lucro dessas 475 instituições é pago pelo governo com o dinheiro do contribuinte. É que quando uma empresa traz dinheiro do exterior, é obrigada a convertê-lo em reais. O dinheiro estrangeiro vai para as reservas do país, controladas pelo Banco Central. Os reais entram na economia. Para impedir uma explosão do volume de dinheiro em circulação -isso causaria inflação-, o governo é obrigado a comprar esses reais. Para isso, emite títulos públicos em troca de reais. As empresas entregam seus reais para o governo em troca de títulos com juros altos. No último dia útil de 95, o juro real era de 26,65% ao ano. Ao longo do ano passado, essa taxa teve picos de até 60%. O dinheiro que o governo usa para pagar os juros altos acaba drenando recursos que poderiam ir para outras áreas. Com essa ciranda financeira, a dívida interna sobe. Texto Anterior: Fiéis repudiam 'perseguição' Próximo Texto: Mercado é opção com a estabilidade Índice |
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