São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Mercado é opção com a estabilidade

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Juro baixo e prazo longo são os atrativos para as empresas brasileiras no mercado internacional.
Forçadas a operar em períodos de no máximo 12 meses com taxas anuais de até 35% acima da variação cambial, as corporações descobriram no exterior a melhor alternativa neste princípio de estabilização econômica.
É possível buscar dinheiro lá fora pagando cerca de 12% de juros ao ano acima da variação cambial -por períodos que podem chegar a cinco anos.
"O custo de captação para uma operação de três anos é de em média 11%, mais a variação cambial. No mercado interno, o juro é de 25% a 30% ao ano, acima da variação cambial", relata José Carlos Giachini, diretor de "large corporate" (grandes empresas) do Banco do Boston.
Por isso, os bancos são os maiores fregueses internacionais. As instituições financeiras trazem recursos do exterior a juro baixo e repassam a linha de crédito para os clientes com juros inferiores aos do mercado interno.
Em outras ocasiões, o banco atua como intermediário. Assessora o cliente. "No ano passado, chegamos a intermediar uma operação em que o cliente captou, de uma vez, US$ 200 milhões", revela Giachini.
O Boston trouxe ao Brasil US$ 310,7 milhões nos últimos cinco anos, segundo o Banco Central. Giachini revela que no BC analisa outro lançamento de papéis no mercado internacional. A decisão deve sair "nos próximos dias".
A presença maciça dos bancos entre os principais captadores também se deve ao grau de confiança que eles despertam nos investidores internacionais.
"O investidor acha mais fácil avaliar o risco dos bancos que de uma indústria que ele não conhece", explica José Monforte, diretor-vice-presidente de "global capital market" do Citibank, a 30ª instituição que mais buscou dinheiro fora do país de 1990 até agosto de 1995 (US$ 240 milhões).
Embora apareça com US$ 392 milhões na lista do BC, o Bradesco diz que buscou US$ 1,08 bilhão no exterior no ano passado -400% mais que em 1994.
A diretoria do banco diz que as operações são para atender a demanda dos clientes por crédito em moeda estrangeira.
É um bom negócio também para a indústria. A Nec do Brasil conseguiu assumir a dianteira do mercado nacional de telecomunicações sem fio graças ao dinheiro de fora. Hoje, detém os mercados da Bahia, parte do Paraná e as cidades de São Paulo e Rio.
Com suporte da matriz (japonesa), a empresa recorreu a tradings (empresas de comércio exterior) a fim de conseguir a maior parte dos US$ 462 milhões que figuram na lista do Banco Central.
Esse dinheiro entrou no país para financiar os investimentos da empresa em telefonia celular. O financiamento era uma das exigências das licitações feitas pela Telebrás, a holding do sistema nacional de telecomunicações. O crédito foi repassado à estatal.
"Essa era a única fonte de recursos para um prazo tão longo", comenta Renato Ishikawa, diretor econômico-financeiro da empresa.
A Alcan também não foi aos bancos. Recorreu à empresa-mãe, canadense, para realizar suas operações -US$ 405 milhões trazidos para o país em cinco anos.
Outra que se beneficiou da matriz foi a IBM. A gigante da informática atuou em dois "fronts" simultâneos, segundo Victor Zylbersztajn, vice-presidente de finanças e administração.
Por um lado, a IBL, braço do ramo de leasing, captou US$ 956 milhões de 1990 para cá para financiar os produtos da marca.
Na outra frente, a própria IBM foi buscar US$ 610 milhões como meio de financiar seus produtos e serviços em prazos mais longos que o capital nacional permite.
Para este ano, a expectativa de todos é de novos empréstimos.

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