São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Tambores de Codó exaltam Deus e diabo nos terreiros

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CODÓ (MA)

Existe uma cidade no Maranhão onde os tambores batem religiosamente, todas as noites do ano, em reverência a entidades sobrenaturais. As festas nos terreiros de Codó começam perto da meia-noite e atraem os "encantados" para os corpos dos pais e filhos-de-santo.
Os cultos dão forças aos umbandistas e fama à cidade, conhecida como o principal centro de magia negra e branca no Estado e onde há uma das maiores concentrações de adeptos de religiões afro-brasileiras em todo o país.
São 236 terreiros de umbanda para uma população de 112.709 habitantes, segundo a Federação de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros do Maranhão.
A historiadora Maria do Rosário Carvalho Santos calcula que, somando-se os terreiros de todos os povoados na área do município, o número pode chegar a 500. Na cidade de Codó existem apenas 13 igrejas católicas e 16 templos evangélicos.
Cada um dos 236 pais-de-santo programa pelo menos dois dias de festa com toque de tambor por ano, como obrigação devida a santos católicos e divindades da umbanda. Cada festa é prestigiada por chefes de outros terreiros e seus filhos-de-santo.
Além do grande número de terreiros, dois aspectos transformaram Codó em centro de referência para os que buscam ajuda espiritual para resolver todo tipo de problemas: a fama de eficiência nos serviços prestados e a naturalidade com que os principais pais-de-santo admitem fazer magia negra.
A opulência de alguns terreiros e a riqueza dos pais-de-santo mais famosos comprovam que fazer o mal é um pedido frequente em Codó e muito bem recompensado. "A linha negra não é nenhum bicho de sete cabeças", afirma o pai-de-santo Domingos Paiva.
Paiva e o pai-de-santo Bita do Barão fazem magia branca e também incorporam entidades malignas (os chamados exus, com os respectivos nomes de Pimenta e Tranca Rua das Almas).
Ambos garantem que a magia negra é capaz de matar pessoas, queimar casas, arruinar a vida amorosa ou profissional de alguém. As possibilidades da maldade por encomenda variam de acordo com os poderes do pai-de-santo e a disponibilidade financeira de quem pede o serviço.
O mercado da magia negra e branca em Codó espalha-se pelos terreiros, pelas dez lojas de artigos de umbanda e também por meio do telefone. Uma consulta à distância custa R$ 100 com Bita e R$ 190 com Paiva, com prévio depósito na conta bancária.
O pai-de-santo Benedito cobra R$ 30 para curar doenças com ervas medicinais, "ou mais se a gente vê que a pessoa pode pagar". "Umbanda aqui é só para quem tem dinheiro", diz o vendedor de balas Amaro Alves, 63.

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