São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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SP ignora dado que reduziria caos da chuva

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo estadual e a Prefeitura de São Paulo não usaram dados que poderiam minimizar na capital os efeitos da chuva que matou quatro pessoas e desabrigou 6.000 entre a tarde da última quarta-feira e a madrugada de quinta-feira.
As comissões de Defesa Civil estadual e municipal ignoraram informações de um radar do CTH (Centro Tecnológico de Hidráulica) da USP. O aparelho é capaz de prever inundações na cidade.
Às 17h de quarta-feira, o radar já informava que a bacia do rio Tamanduateí iria inundar, e que isso se refletiria no rio Tietê, principal via para escoamento da água das chuvas na capital.
Resultado de um convênio entre a USP e o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), do governo estadual, o radar indicava na mesma hora que também haveria problemas na zona leste.
Encarregados da Defesa Civil do Estado e da prefeitura (leia texto ao lado) disseram que não tinham a informação. No entanto, ela estava disponível para ser acessada por órgãos estaduais e municipais no computador do CTH.
"Deveria haver uma melhor coordenação para usar uma informação que poderia ter ajudado a diminuir o dano causado pela chuva", disse Benedito Braga, professor da USP e diretor do CTH.
Segundo ele, as chuvas de segunda e terça (50 mm por dia) já haviam esgotado a capacidade de absorção de água do solo na capital, elevando o nível dos rios a um ponto preocupante.
"Além da previsão de 17h do radar, os prognósticos comuns da meteorologia já demonstravam na manhã de quarta que o dia na capital tinha enorme chance de apresentar problemas de trânsito e de enchentes", afirmou Braga.
Meteorologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Paulo Etchichury concorda com Braga: "Considerando que a chuva caía desde segunda, a análise do tempo na quarta indicava um dia de muitos transtornos".
O diretor do CTH afirmou que é praticamente impossível evitar inundações na cidade de São Paulo. Disse, porém, que as informações do radar poderiam ter resultado em medidas que reduziriam os estragos causados pela chuva.
Braga citou, como exemplo de ação emergencial, o fechamento do trânsito nas marginais Tietê e Pinheiros e a criação de rotas alternativas para o tráfego.
Defendeu que órgãos estaduais e municipais, através dos meios de comunicação, alertem com rapidez a população sobre as áreas com maiores riscos de alagamentos.
Se esse procedimento fosse adotado, um número maior de pessoas evitaria esses locais, diminuindo os acidentes e congestionamentos.
"Não se trata de apontar culpados, mas de fazer uma crítica construtiva para situações futuras. É preciso esquemas de prevenção melhor preparados", afirmou o diretor do CTH.
Radar
O Centro Tecnológico de Hidráulica da USP combina várias informações para fornecer a previsão de inundações na cidade.
Instalada na barragem de Ponte Nova, em Salesópolis (95 km a leste da capital), o radar capta a potencialidade de chuva das nuvens e a sua localização.
O aparelho rastreia a atmosfera até a altura de 18 km num raio de 360 km, abrangendo fenômenos meteorológicos no leste do Estado de São Paulo e no sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Esses dados são cruzados com a quantidade de chuva que caiu nos dias anteriores e com o nível em que se encontram rios e córregos.

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