São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Mercado de livros cresce em 1995

CÁSSIO STARLING CARLOS
DA REDAÇÃO

Os indicadores parciais de faturamento, produção e títulos catalogados pela indústria editorial no Brasil apontam um crescimento do setor em 95 que acentua alguns percentuais já registrados em 94 em relação aos índices de 93.
Segundo Altair Brasil, presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro), "as projeções indicam que o faturamento global do setor aponta crescimento de 35%". Dados parciais indicam que o número de exemplares impressos, por sua vez, cresceu 24% (contra 4,3% em 94) (veja abaixo quadro com os dados comparativos). Os dados oficiais devem ser divulgados na próxima quarta-feira.
O bom desempenho comercial e industrial em 95, considerado pelos editores um efeito direto da política de estabilidade econômica do governo, não é entretanto motivo para euforia.
Para Sérgio Machado, presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e editor da Record, "estabilidade econômica não é sinônimo de boom de vendas".
Na opinião de Paulo Rocco, da editora Rocco, "o mercado cresceu muito, mas apenas horizontalmente. Constatamos um expressivo aumento de lançamentos, mas o consumo não foi proporcional".
A estabilização econômica, em vez de euforia, está servindo para uma reformulação da política das editoras. O titubeante mercado editorial parece estar caminhando para sua maturidade. Planejamento a longo prazo (impossível numa economia instável), exploração coordenada de tendências de mercado e diversificação da oferta são algumas das estratégias previstas para 96.
"Como 95 foi o primeiro ano completo com estabilidade financeira, isto permitiu aumentar o horizonte do trabalho editorial", afirma Sérgio Machado. "A partir de agora já se pode organizar para planejamentos mais lentos, a longo prazo, trabalhando inclusive o desenvolvimento do produto."
Segmentação
A possibilidade de planejamento começa a permitir às grandes editoras segmentar sua produção de acordo com as tendências do mercado atual.
Na opinião dos editores, não há mais um padrão limitado de consumo. "O fenômeno da segmentação ocorre no mundo todo e o mercado brasileiro já reproduz o que se tornou comum nas sociedades complexas", afirma José Bantim Duarte, editor da Ática. "Não há mais um comprador exclusivo. Se há consumidores típicos de best sellers ou livros de auto-ajuda, também há aqueles, regulares, de livros técnicos, ensaios e literatura."
"Nas listas de mais vendidos, a maior participação não é mais a de best sellers convencionais", diz Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras. "Não adianta procurar um padrão de gosto. O comportamento do consumidor é cada vez mais diversificado, mais estimulado por acasos".
Com investimentos na segmentação, as editoras não acreditam mais em tendências exclusivas. Best sellers, esotéricos e biografias ainda são os filões dominantes, mas outros despontam. Entre as novas tendências os editores destacam os livros de gastronomia e os guias de viagem.
Os novos lançamentos no setor de gastronomia se caracterizam por um tratamento saboroso também dos textos. Um exemplo desta tendência está em dois lançamentos recentes da Companhia das Letras -"A Fisiologia do Gosto", de Brillat-Savarin, e "Não É Sopa", de Nina Horta-, que programa sete títulos na área para 96.
A Ática, por sua vez, promete para 96 o lançamento de uma coleção de guias de viagem. "Vamos entrar neste setor para competir com a Folha", diz Bantim Duarte.
No ano passado a Publifolha -divisão de publicações da Folha- lançou no país, em parceria com a editora inglesa Dorling Kindersley, os dois primeiros volumes -"Nova York" e "Paris"- da coleção "Guia Visual". Em 96 a Publifolha prepara quatro novos títulos, dos quais os dois primeiros, já definidos, serão "Roma" e "Londres", que chegam este mês às livrarias.
A tendência neste caso é de livros que exploram o campo da informação visual. Segundo Ricardo Gandour, diretor-adjunto da Publifolha, "a coleção foi pioneira na adoção de imagens aliadas ao texto. As imagens deixam de ser mera ilustração e funcionam como material de informação que prolonga o estritamente textual" (leia nesta página texto sobre união entre imagem e escrita).
Algo semelhante acontece com os livros infantis, segundo o editor da Ática. "Nesta especialidade, que representa 10% da produção da editora", afirma Bantim Duarte, "ganham força o 'picture book' -o livro infantil bonito- e o livro-brinquedo -cujas páginas se transformam".
Em 96 a Ática prossegue também com novos títulos de "instant books", edição de reportagens extensas publicadas na imprensa, a exemplo de "A Nova Guerra do Vietnã", de Jayme Spitzcovsky, e "Racismo Cordial", duas reportagens da Folha que foram transformadas em livros.
Novos nomes
A Rocco, por sua vez, promete ampliar o espaço aberto para novos autores de literatura brasileira. Segundo Paulo Rocco, "a política do autor diz respeito à qualidade, não ao nome consagrado. Nossa estratégia nesse sentido é dupla: investir nos novos nomes para garantir a renovação ampla da oferta e recuperar autores importantes, mas que permaneceram desconhecidos do grande público, como Alfred Dõblin, de quem lançamos 'Berlin Alexanderplatz' no ano passado".
Outro exemplo de diversificação pode ser visto no caso da Record. Mesmo não descartando a opção de trabalhar com o best seller tradicional, a editora investe em setores alternativos, como o lançamento da coleção Contraluz, constituída por títulos de interesse homossexual.
Esta diversificação em coleções deve estimular a concorrência, já que os gigantes do mercado começam a invadir territórios até então predominantes de editoras pequenas.
Por seu próprio tamanho, as pequenas editoras em geral se especializaram em setores e se mantêm graças à fidelidade de um público determinado, como estudantes universitários, na área de ensaios, por exemplo.
"O público jovem cuidadosamente cultivado ao longo dos anos 80 transformou-se, nos anos 90, num público de baixo poder aquisitivo, por causa das limitações do mercado de trabalho", analisa Samuel Leon, editor da Iluminuras. "Como consequência, o que sobrou dele foi a parcela intelectualizada, fiel às alternativas oferecidas pelas pequenas editoras. É nela que as grandes editoras agora resolveram investir".
O lucro dessa concorrência que promete se acirrar, é claro, vai para o leitor.

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