São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996 |
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Texto e imagem se unem nas edições
RICARDO GANDOUR
O conceito de que palavras e figuras devem transmitir informação simultaneamente é levado cada vez mais a sério pelas editoras que vêem nesse filão um espaço imenso para crescer. Só a inglesa Dorling Kindersley, que comandou a guinada européia em direção à página ilustrada, sendo imitada por concorrentes do primeiro time, fechou o ano com mais de 22 milhões de cópias vendidas dos seus "eyewitness", coleção considerada uma espécie de símbolo mundial entre os livros ilustrados. A perfeita união entre escrita e imagem é mais do que meramente um recurso gráfico. É uma questão de estratégia de linguagem, de adoção de um arsenal amplo de comunicação. Para implantar essa estratégia é preciso mais do que simplesmente dispor, lado a lado, palavras e figuras. O fundamental é usar a imagem como um elemento informativo que seja processado pelo olhar juntamente com o texto, ao longo da leitura de toda a página. No design gráfico, digamos, tradicional, com imagens e textos cada qual no seu lugar, tendemos a "ler" palavras e figuras separadamente, uma coisa de cada vez. Observem-se os livros ilustrados mais recentes e bem-sucedidos. As figuras "saltam" para o plano de leitura do texto, este agora envolvendo a imagem. O resultado é uma leitura conjunta. A imagem é percebida ao mesmo tempo em que se interpretam as palavras. Esse modo de integrar informação visual com escrita é apenas uma entre as diversas maneiras de se planejar a página como um todo, levando em conta que o leitor, afinal, está com todos os seus sentidos prontos para receber informação. Essa abordagem fortalece o livro impresso na concorrência com a multimídia, produto que estimula -e acostuma- os leitores nas formas de percepção multisensoriais. O que não pode acarretar, absolutamente, um desprezo pelo texto puro e simples, bem escrito, claro e preciso. O recurso de recortar figuras e empetecar a página não é novo, obviamente. O que é importante observar é a utilização da técnica de maneira integrada. Peter Kindersley, "chairman" da DK, lembrou numa palestra recente que "tudo isto não é novo, mas nunca foi aplicado com tanta consistência e conhecimento e nunca foi tão necessário como agora, para competir com mídias mais ágeis e motivadoras, como é a multimídia". Kindersley defende que palavras e figuras são mais do que simplesmente diferentes. São opostas e por isso se complementam (veja quadro nesta página). Na luta pela sobrevivência ao ataque eletrônico, a força da imagem vem se aliar a uma característica inerente às publicações de papel: uma certa "interatividade". Atributo endeusado como cibernético, a interatividade está presente em grande dose na mídia impressa, e de uma forma natural. Quem pregou há cerca de uma década a morte das publicações de papel não havia pensado nisso seriamente. Você pode transportar um livro (ou revista ou jornal) para onde bem entender, "editar" a leitura de acordo com suas prioridades, saltando de um capítulo para outro, sublinhando ou recortando trechos importantes para leitura posterior. Poderá folhear ("browse", no informatiquês), consultando apenas os títulos e pontos principais. Isso é que é ser interativo, afirmou recentemente o designer americano Roger Black, defensor da "interatividade do papel". A concepção de toda a obra, desde seu planejamento, passa a lançar mão dos fundamentos necessários para a afinação entre palavras e figuras. A definição das imagens interfere no desenvolvimento dos textos e vice-versa. Profissionais de um lado passam a bisbilhotar no outro (justamente o que faço agora), auxiliados pelos computadores, ferramenta que facilita e acelera a execução. Bem entendida e aplicada, a adoção de uma linguagem resultante da fusão de texto e imagem deverá representar oportunidades e desafios para o setor de livros de referência no Brasil e os profissionais que nele atuam. Um certo traço da nossa cultura, que se traduz em nítida afinidade com elementos iconográficos, e a necessidade de se estimular o interesse pela leitura são motivações mais do que suficientes. Texto Anterior: Mercado de livros cresce em 1995 Próximo Texto: Entidade quer alterar a definição de livro Índice |
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