São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Buraco negro

Nas últimas semanas, o presidente dos EUA, Bill Clinton, esteve enfrentando uma batalha com a maioria republicana que, entre outros lances, colocou o Tesouro americano na insólita situação de ter de recorrer a fundos extra-orçamentários para evitar a paralisia dos serviços não-essenciais do governo.
Já no Brasil, o recurso a fundos de longo prazo para tapar buracos de curto prazo tem uma longa e funesta tradição. Os "mestres" da manobra usada por Clinton, quem diria, podem estar ao sul do Equador.
Um dos exemplos mais terríveis desse abuso é o "empréstimo" de recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O governo já deve R$ 3,2 bilhões, usados para enfrentar problemas sempre emergenciais de caixa em áreas tão diversas como a saúde, o setor naval, a Previdência, a Petrobrás ou a agricultura. Recorde-se que esses recursos, como diz o próprio nome do Fundo, deveriam amparar o trabalhador, por meio de programas como o do seguro-desemprego.
A manobra, que se repete ano após ano, evidencia ao mesmo tempo dois problemas de enorme gravidade. De um lado, a falta de compromisso das autoridades quando se trata de amparar o trabalhador. De outro, a situação de desequilíbrio crônico em que se encontra o setor público, no qual continuam a acumular-se dívidas entre diferentes áreas do governo, num cipoal de passivos a descoberto.
Desse modo, o fundo que poderia servir para ampliar o apoio ao crescente número de desempregados é atraído para o buraco negro da desordem orçamentária.

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