São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1996
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Cláudia Raia é melhor que "Não Fuja da Raia"

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

Tudo é grande, superlativo, anabolizado em Cláudia Raia. Seu rosto, suas pernas, sua gana de ser superstar. É impossível assistir a uma hora da atriz sem ter alguma reação.
Seu musical "Não Fuja da Raia", exibido em 27 de dezembro e que deve virar programa fixo neste ano, ainda não funcionou na TV. E a menor culpa é de Cláudia Raia.
A atriz tem uma certa "star quality". Prende a atenção em qualquer coisa que fale olhando para a câmera. Já provou, em outros programas, que pode até ser engraçada.
Mas o formato em que está inserida não ajuda. Quem se lembra de "Sandra e Miéle" e "Brasil Pandeiro", dos anos 70? Pois desde aquela época a televisão não consegue fazer bons musicais.
"Não Fuja da Raia" padece da mesma "síndrome de Broadway", que se agrava quando conjugada com ambição fora do lugar.
Cláudia Raia dança, se esforça, mas está bem longe de ser uma bailarina virtuose. A sucessão de números musicais acaba cansando, uns pela repetição de recursos, outros pela pobreza coreográfica.
O melhor da atriz são seus dotes histriônicos. Mas ela parece usá-los com excessiva parcimônia para quem muitas vezes consegue fazer rir com apenas um gesto.
E o trabalho de colocar o programa de pé desaba quando a estrela envereda pela entrevista humana com Xuxa ou pelo comentário engrandecedor no final.
São peças primárias na pieguice ("você vai comprar o docinho para o seu filho, já vem com cocaína", ela diz, lágrima brilhando no canto do olho esquerdo); constrangem.
Fazem pensar se não há alguém para moderar o tom e incentivá-la a usar o que tem de melhor. No último número, ela canta: "Fiz o que pude, juro, dias melhores virão".
Que seja uma promessa.

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