São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Índice

Equipe detecta energia usada na Enterprise

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cientistas europeus criaram na realidade o que parecia ser ficção científica: a antimatéria.
"Se você assiste a 'Jornada nas Estrelas', sabe que a nave USS Enterprise tinha propulsão à base de antimatéria", disse Neil Calder, porta-voz do Laboratório Europeu para Física de Partículas (Cern), onde a façanha foi feita.
Pela primeira vez, átomos de antimatéria foram obtidos no acelerador de partículas circular do Cern, em Genebra (Suíça).
Cada um dos nove átomos obtidos durou apenas 40 bilionésimos de segundo, até ser aniquilado pela matéria comum. Foi por meio da energia vinda do encontro com a matéria que os cientistas detectaram a existência da antimatéria.
O choque de matéria e antimatéria é visto por muitos como fonte de energia que no futuro pode impulsionar naves como a Enterprise.
"Ainda não chegamos lá, mas os resultados são um passo importante", afirmou Calder. Os físicos suspeitavam da existência da antimatéria há mais de 60 anos. A antimatéria é formada por partículas semelhantes às da matéria, chamadas antipartículas.
O átomo mais simples que forma matéria é o de hidrogênio. Ele tem no núcleo só um próton, partícula de carga elétrica positiva.
Outra partícula chamada elétron, de carga negativa e massa menor que a do próton, orbita o núcleo do hidrogênio.
Na década de 50, pesquisadores obtiveram as primeiras antipartículas. O antipróton, uma delas, tem massa igual à do próton, mas carga negativa. O antielétron, também chamado pósitron, tem a massa do elétron e carga positiva.
Mas os cientistas ainda não haviam conseguido obter um antielétron orbitando um núcleo com antiprótons, o que formaria um átomo da chamada antimatéria.
No Cern, a equipe liderada por Walter Ölert, da Universidade de Nurembergue (Alemanha) e da Universidade de Gênova (Itália), realizou a proeza em setembro.
Para obter átomos constituídos por um antielétron orbitando um antipróton, batizados como anti-hidrogênio, Õlert primeiro gerou um feixe de antiprótons.
O feixe foi conduzido através de um jato de gás xenônio. Em raras ocasiões, um antipróton convertia parte de sua energia num elétron e num pósitron ao cruzar o xenônio.
"Em casos ainda mais raros, a velocidade do pósitron era suficientemente próxima à do antipróton para que as duas partículas se juntassem -criando um átomo de anti-hidrogênio", diz comunicado do laboratório europeu.
Especialistas afirmam que o próximo passo é tentar armazenar antimatéria para, possivelmente, elaborar um gerador de energia para espaçonaves do futuro.

Texto Anterior: Universal cobra por bilhete mais que ônibus comum
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.