São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
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Tupi or not tupi?

O movimento modernista brasileiro concentrou nessa blague a essência inteira de um novo olhar sobre o Brasil e de uma reflexão sobre a irreversível "estrangeirização" do país. Se a história se repete apenas como farsa, a arte talvez se repita como publicidade.
Um exemplo que merece reflexão é a atual onda de slogans publicitários em inglês, revelada por reportagem desta Folha. O marketing em inglês (o próprio termo já é um anglicismo) é considerado parte do padrão de qualidade vigente.
O tema, entretanto, não escapa à polêmica. Do mesmo modo como se questionam os efeitos econômicos negativos da globalização, surge uma atitude mais crítica no campo da globalização cultural.
Os gramáticos dizem que o anglicismo ou o galicismo são fenômenos de "idiotia" da língua. É como se o português se atrofiasse e passasse a ser incapaz de transmitir a mensagem dos publicitários. Concretamente, em muitos casos, o "jingle" genial em inglês já chega pronto de agências no exterior.
Oswald de Andrade pegava a frase clássica da literatura inglesa, ruminava e devolvia outra, minimalista, parecida com a ancestral mais nobre, mas com outros sentidos e cheia de auto-ironia. Hoje, porém, a incorporação do termo estrangeiro é menos criativa, quando não é totalmente passiva.
Um dos efeitos desse marketing sem antropofagia é que o consumidor brasileiro certamente vai se sentir mais em casa nos "shoppings" de Miami (e o americano nos "shoppings" do Brasil).
Resta saber se esse conforto, aliado à falência do sistema educacional, não estará silenciosamente preparando um cidadão que no futuro saberá apenas consumir e terá perdido sua identidade cultural.

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