São Paulo, segunda-feira, 8 de janeiro de 1996
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As cidades

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - As pesquisas de intenção de voto em 11 capitais, publicadas ontem na Folha, contêm uma boa notícia: a estabilização momentânea da economia não é, até agora, o principal referencial para o posicionamento dos eleitores.
A bateria de pesquisas que o jornal vem publicando desde o primeiro dia de 96 mostra um generalizado otimismo no país, seguramente provocado pelo controle da inflação.
Há casos pontuais de insatisfação -entre os moradores de Brasília e de Salvador, por exemplo- ou de apreensão -em relação ao provável aumento do desemprego. Mas o quadro geral é de satisfação.
Esse otimismo não vem beneficiando, no entanto, os candidatos a prefeito do partido do governo. O que pode indicar que, aos olhos dos eleitores, nenhum partido, mesmo os de oposição, representa ameaça à estabilidade. É como se o fim da inflação e de suas mazelas beneficiasse a todos.
E por que isso é bom? Como as eleições municipais não estão contaminadas pelas discussões nacionais, não existindo até este momento um ambiente plebiscitário, é possível vislumbrar a possibilidade de que a principal discussão se dê em torno dos problemas de nossas cidades e municípios.
O ano é excepcional para essa discussão: teremos o fim dos mandatos dos atuais prefeitos, o lançamento de candidaturas e programas de governo e a realização, em junho, da Habitat 2 (conferência internacional da ONU sobre as cidades), em Istambul.
Há discussões que não podem mais ser adiadas sob pena de nossas grandes cidades virarem o século inabitáveis. Cito cinco pontos:
1- a distribuição democrática e transparente dos recursos orçamentários;
2- investimentos prioritários para diminuir as imensas zonas hoje excluídas de benefícios e oportunidades;
3- o redirecionamento da política de transportes coletivos;
4- a implantação definitiva de planos diretores que orientem o futuro das cidades;
5- e a exposição pública, facilitada, de informações sobre as ações dos prefeitos e de seus auxiliares.
São exigências inadiáveis se queremos viver em cidades que tenham como referência valores de cidadania e de civilidade.

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