São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 1996
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Mitterrand morre aos 79 anos em Paris

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

François Mitterrand morreu na manhã de ontem em Paris, aos 79 anos. O presidente francês de 1981 a 1995 teria morrido dormindo, em seu apartamento-escritório na capital francesa, às 8h30 (5h30 de Brasília). Tinha câncer na próstata.
A Presidência do socialista Mitterrand foi a mais longa da história francesa. Quinta-feira, dia de luto nacional, ele será enterrado às 11h da França em Jarnac (no sudoeste do país), a cidade em que nasceu, numa cerimônia familiar.
No mesmo momento, será celebrada uma missa em Notre Dame, a catedral de Paris, pelo cardeal Jean-Marie Lustiger. Mitterrand se dizia agnóstico.
Não estão previstas homenagens públicas com a presença do corpo do presidente.
Desde que foi anunciada a sua morte, por volta das 10h de Paris, admiradores anônimos deixavam buquês de rosas na calçada do prédio onde Mitterrand foi encontrado morto. A rosa é o símbolo do Partido Socialista.
A polícia protegia a entrada, mas o ambiente era calmo, e a aglomeração não passou de cerca de 200 pessoas durante o dia.
Vários membros do governo e políticos visitaram o corpo, velado apenas pela família.
O líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Iasser Arafat, que está na França, também deu condolências à família.
O presidente Jacques Chirac, principal opositor de Mitterrand, fez um discurso de homenagem em cadeia nacional de rádio e TV.
Lembrou o compromisso do presidente morto com os ideais de justiça social e solidariedade, seu engajamento na unificação da Europa e o gosto de Mitterrand pela literatura.
O corpo será levado para Jarnac em um avião militar e enterrado às 11h de quinta-feira (8h em Brasília). Mitterrand disse que não queria homenagens de Estado em seu enterro. O presidente do Congresso brasileiro, senador José Sarney (PMDB-AP), deve representar o país.
Queria uma cerimônia reservada, que estaria acertada desde março do ano passado.
A princípio, pelo menos, seu corpo não será transferido para o terreno que ele e sua mulher compraram, em Mont Beuvray.
O local tem importância histórica -os gauleses aí teriam se reunido para organizar a resistência contra o Império Romano, que ocupava o território do que viria a ser a França.
Algumas TVs e rádios francesas ocuparam toda a sua programação de ontem com reportagens, entrevistas e debates sobre a morte do presidente.
A France 2, segunda TV de maior audiência, dedicou o dia inteiro a Mitterrand, desde o anúncio de sua morte. O mesmo fez a rádio France-Info, que divulga exclusivamente notícias.
O jornal parisiense "Le Monde", que circula à tarde, dedicou sua manchete à morte de Mitterrand e, pela segunda vez em sua história, publicou uma foto na sua primeira página.
O "Le Monde", principal jornal francês, raramente publica fotos, mesmo em suas páginas internas. A edição se esgotou em poucas horas.
Mitterrand passou o Natal em Assuã, no Egito, quase todo o tempo em repouso e conduzido em cadeira de rodas.
Estava acompanhado de sua filha bastarda, Mazarine, e da mãe dela, Anne Pingeot.
O presidente era casado com Danielle Mitterrand, e o público soube de Mazarine apenas no ano retrasado. Ele tinha dois filhos com Danielle.
Na sua visita ao Egito, Mitterrand também estava acompanhado de seu anestesista, Jean-Pierre Tarot, presença constante ao seu lado nos últimos anos.
Tarot lhe administrava morfina contra as dores provocadas pelo câncer na próstata.
Nos últimos dias, Mitterrand dedicava-se a escrever mais dois livros (é autor de outros 14) e tinha até marcado um encontro com o ex-primeiro ministro conservador Edouard Balladur.

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