São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 1996
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Hendricks canta Copland e Barber

ARTHUR NESTROVSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Disco: Quiet City, Eight Poems of Emily Dickinson, de Aaron Copland (1900-1990) e Adagio, Two Songs Op. 13, Knoxville, de Samuel Barber (1910-1981)
Artistas: Barbara Hendricks (soprano), London Symphony Orchestra e Michel Tilson Thomas (regente)
Lançamento: EMI

Depois que Charles Ives inventou a música de concerto americana, no início do século, coube a Aaron Copland (1900-1990) e Samuel Barber (1910-1981) o papel de proclamar sua independência.
Tradicionalmente reunidos, em discos como em concertos, Copland e Barber são na verdade diferentes um do outro: a esquerda e a direita da composição.
Copland, um modelo até hoje de uma certa forma de vanguarda nos Estados Unidos, tinha a ambição de escrever uma música inovadora, sofisticada, sem afastar-se da tradição popular.
"Quiet City" (1940), adaptada da música incidental para uma peça de Irwin Shaw, é um monólogo jazzístico do trompete contra a cidade adormecida das cordas. Segundo o regente Michel Tilson Thomas, o adágio soa como algo que Mahler poderia ter escrito, se tivesse vivido em Nova York.
Já as "Oito Canções de Emily Dickinson" (1958) têm algo de mais original, mesmo se não tão bem sucedido.
Copland talvez seja um compositor transparente demais para a poesia oblíqua e difícil da maior poeta do século 19. Mas a luz e as sombras, os ângulos quebrados da voz nessas canções, traduzem algo de novo.
São os grandes espaços, ou a idéia de espaço, que o poeta Charles Olson dizia ser a metáfora fundadora do seu país.
Barber, de sua parte, é um cronista do tempo e da memória. Seu "Adágio para Cordas", que reescreve Albinoni em linguagem cromática, foi estrelado por Toscanini em 1938, tornando-se a elegia oficial pelos mortos da Segunda Guerra.
"Knoxville: Verão de 1915", sobre texto de James Agee, traz a música italianada de Barber para regiões mais próximas da casa. Não é o Tennessee, mas é uma lembrança afetuosa da infância.
Talvez a maior surpresa do disco sejam as duas canções "Op. 13". Barber sempre escreveu bem para a voz, como seu parceiro e companheiro Menotti. Nas duas peças, tranquilas, a voz se torna uma expressão maior do que os versos.
Ninguém, aliás, poderia cantar esta música com maior naturalidade e maior elegância que Barbara Hendricks. Sem histrionismo, Hendricks nos dá a confiança de que nada poderia ser menos que certo, afinado, bonito. Não será nunca a cantora favorita de ninguém; porque é musicalmente correta demais, e um tanto comedida. Mas que prazer escutar uma cantora tão refinada e tão simples.

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