São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Aliados pedem bastante, mas prometem pouco

SILVANA DE FREITAS

SILVANA DE FREITAS; LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso foi avisado ontem pelos líderes dos partidos aliados que o governo vai enfrentar dificuldade na Câmara para a aprovação das reformas previdenciária e administrativa e outros projetos de interesse do governo.
Os líderes do PMDB, PFL, PSDB, PFL, PPB e PTB afirmaram que as dificuldades resultam de dois fatores: o descaso com que os parlamentares são tratados nos ministérios e o fato de as votações acontecerem em ano eleitoral.
Os aliados argumentaram que é difícil para os parlamentares a aprovação de projetos impopulares, como o fim da estabilidade do servidor e de direitos já consagrados na Previdência Social.
Os parlamentares comprometeram-se apenas a aprovar a admissibilidade na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do projeto que cria a CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira). Nada foi garantido para quando as reformas entrarem na discussão de mérito. O encontro com os líderes do governo e dos partidos aliados aconteceu em café da manhã, ontem, no Alvorada. FHC também recebeu os líderes dos partidos aliados no Senado para almoço.
O líder do PMDB, Jáder Barbalho (PA), disse que o encontro não mudou o compromisso da bancada com as propostas. "O almoço não altera absolutamente nada. O presidente quis reafirmar o seu interesse na tramitação das matérias. Senão, as soluções de governo seriam todas à base da culinária".
O líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), disse que o projeto contraria o programa do partido: "Vejo muita dificuldade para a sua aprovação na Câmara".
FHC ouviu queixas dos partidos, particularmente do PFL, sobre o desinteresse dos ministros em conceder audiências e atender telefonemas de parlamentares.
Foram citados os ministros da área econômica. O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), afirmou que nem mesmo ele consegue ser recebido pelo presidente do Banco do Brasil, Paulo Cesar Ximenes.
Participaram da reunião os ministros José Serra (Planejamento), Clóvis Carvalho (Casa Civil) e Nelson Jobim (Justiça). FHC prometeu fazer uma reunião com os ministros para cobrar uma maior atenção aos parlamentares. Disse que o ministro que não obedecer não estará ajudando.
O líder do PSDB, José Aníbal (SP), disse que "é importante que o governo esteja bem aberto às demandas parlamentares". Luiz Carlos Santos disse que o presidente determinará ao secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, que recomende aos ministros que "sejam mais cuidadosos".
Num encontro reservado após o café da manhã, Inocêncio reivindicou maior espaço ao partido no núcleo de decisões do governo. O líder transmitiu as reclamações que ouviu na primeira reunião da bancada ocorrida anteontem.
"Eu disse que o PFL quer ser tratado como o maior partido, como um partido que tem dado sustentação ao governo e que quer ser ouvido nas decisões e no encaminhamento de matérias.".
O café da manhã visava a buscar apoio à emenda constitucional que cria a CMF, ao projeto que institui a contribuição social de inativos na CCJ e às votações da reforma da Previdência.
Os líderes se comprometeram a votar o projeto de Previdência na comissão especial da Câmara até o fim de janeiro. A votação em plenário deve acontecer na primeira semana de fevereiro.
O líder do PMDB, Michel Temer (SP), disse que o partido "continua com o mesmo apoio que deu no ano passado: um apoio crítico, que resultou, na verdade, na aprovação das reformas".

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