São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Peemedebistas fazem críticas à audácia de Paes

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em jantar com líderes de partidos de esquerda, anteontem, o presidente nacional do PMDB, deputado Paes de Andrade (CE), iniciou uma articulação para barrar mudanças constitucionais propostas pelo governo e chegou a recorrer ao revolucionário francês Danton para explicar a sua "audácia". Mas enfrenta resistências em seu próprio partido.
O presidente do PMDB disse que o jantar foi "um primeiro passo na busca de acordos pontuais com a esquerda". Ele cita como pontos de interesse mútuo a manutenção da estabilidade do servidor e a aposentadoria por tempo de serviço.
O líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), afirmou que essa aproximação não visa à formação de um bloco parlamentar, mas cria um novo canal de negociações.
"Até aqui, todas as votações tinham o mesmo resultado: 75% de um lado e 25% de outro. Não havia uma posição de centro. Agora, podemos fechar acordo em cima de pontos específicos e dificultar as coisas para o governo", disse.
O líder do PT, Jaques Wagner (BA), afirmou que o jantar representou o primeiro passo para uma futura negociação com o PMDB: "Mas é assim mesmo. Toda paquera começa com um jantar".
Também estiveram presentes líderes e deputados do PPS, PC do B, PT e PDT. Cerca de 40 deputados estiveram na casa de Paes.
Temer foi evasivo ao comentar o encontro. Primeiro, disse que o jantar teve um "significado social". Depois, afirmou que o encontro terá "repercussão política, porque abre um canal de negociações com as oposições".
Durante o jantar, Paes foi perguntado por um jornalista se não estaria sendo muito audacioso ao procurar as esquerdas, já que preside um partido aliado ao governo. O deputado, então, respondeu: "Il faut d'audace, toujours d'audace, encore d'audace (sic).
Queria se referir, na verdade, a um discurso de Danton, proferido em 1792, em que este perguntava o que era preciso para salvar a república.
O próprio Danton respondia: "De l'audace, encore de l'audace, toujours de l'audace" (audácia, mais audácia, audácia sempre).
Paes acrescentou que tanta audácia tinha respaldo da bancada: "Eu não sou idiota. É claro que tenho respaldo".
Informado sobre a citação de Paes, ontem, o deputado Moreira Franco (RJ) respondeu: "E ele pensa que nós gostamos de guilhotina. "Pas de guilhotine (sem guilhotina)". Ele se referia ao fato de Danton ter perdido a cabeça na guilhotina num dos reveses da Revolução Francesa.
O vice-presidente da Câmara, Ronaldo Perim (MG), afirmou que Paes não tem o respaldo da bancada para fechar acordos com a esquerda. "Cerca de 80% da bancada pensa diferente do presidente."
O governador de Santa Catarina, Paulo Afonso (PMDB), disse que seu partido deve "parar de ficar criando caso e declarar apoio ao presidente".
Para ele, o partido pode perfeitamente manter apoio ao governo e se preparar para as eleições municipais deste ano. Segundo o governador, o apoio não impede nem mesmo que o partido decida disputar a Presidência da República em 1998 de forma independente.
Em sua avaliação, Paes de Andrade "está tentando criar espaço":"Ele acabou de assumir a presidência e é normal que tente encontrar uma posição", disse o governador.
Afonso disse que estaria disposto a capitanear um movimento para entrosar os demais governadores do partido. Segundo ele, depois de eleição do presidente da legenda, o PMDB "voltou a se dispersar".

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