São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Caso é a maior derrota da equipe econômica

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O desfecho do caso Banespa é a maior derrota da equipe que elaborou o Plano Real e comanda a economia desde 1993.
Após 12 meses de briga com um forte esquema político paulista, o resultado final reúne tudo o que se tentou evitar: o banco não será privatizado, os cofres federais cobrirão o rombo e São Paulo entrará com bens cujo valor era questionado pelo Banco Central.
Durante esse período, o BC, que administra o Banespa, não promoveu os ajustes necessários na estrutura de agências e pessoal e o buraco do banco se multiplicou devido à política de juros.
Em dezembro de 94, a equipe econômica obteve o aval do recém-eleito presidente Fernando Henrique Cardoso para a intervenção que deveria resultar na privatização do Banespa.
Como avalia o presidente do BC, Gustavo Loyola, "só se decreta uma intervenção desse tipo quando se sabe como sair dela". Essa saída, na visão da equipe, era a venda do banco.
Essa privatização, imaginavam os economistas do governo, serviria de exemplo para a venda dos demais bancos estaduais.
Pretendia-se evitar que as instituições fossem novamente usadas politicamente nas futuras eleições, gerando mais déficit público.
O caso do Banerj, que sofreu intervenção com o Banespa, virou paradigma para a equipe econômica: hoje o Banco Bozano, Simonsen administra o banco estadual carioca para sanear suas contas. Depois de um ano, segundo contrato, ele o devolve ao governo que, por sua vez, o vende.
O acordo anunciado ontem -cujas condições são quase integralmente as impostas pelo governador Mário Covas- sinaliza, porém, para a direção contrária.
O BC e a defesa da privatização saem enfraquecidos e o Tesouro Nacional aumenta seus gastos.
BC, CEF (Caixa Econômica Federal) e outros bancos oficiais que injetaram dinheiro no Banespa nesse período serão ressarcidos com títulos sem valor de mercado.
Esquema político
Pela legislação das intervenções, o BC pode vender o banco sem concordância de seu controlador. Na prática, as coisas aconteceram de modo muito diferente.
Toda a bancada paulista uniu-se ao governador Mário Covas contra a venda do Banespa. Nesse grupo entraram estatizantes do PT e privatizantes do PFL.
FHC deixou que o ministro Pedro Malan (Fazenda) e a diretoria do BC brigassem sozinhos com o governo paulista.
Em nenhum momento o presidente se pronunciou sobre a venda do banco.
Ainda no primeiro semestre, o interventor Altino da Cunha deixou a presidência do Banespa devido à falta de definição política do governo.
Em agosto, sondagens do BC revelaram que não havia interesse do mercado pela compra do Banespa enquanto não fosse resolvido o pagamento da dívida do governo paulista junto ao banco.
Em novembro, Malan reconheceu a derrota de sua equipe ao anunciar, publicamente, que a privatização não era "condição precedente" para o socorro federal ao Banespa.
(GP)

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