São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Apocalipse é programar réveillon de 2000

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Tem algo de estranho no ar. Acabamos de entrar em 1996, não foi? Então por que cargas d'água todos já estão com a cabeça no ano 2000?
Nesta virada de ano só se falou no final do século. Tudo bem, 1996 marca a passagem da metade da última década antes do fim do milênio. Mas será que isso justifica tanta especulação em torno de uma data que ainda demora 1449 dias para chegar?
Claro, jornalista não sabe fazer conta, como costuma martelar em sua coluna dominical o amantíssimo ombudsman da Folha, Marcelo Leite. Se soubesse, seria publicitário e ganharia o dobro.
Mas, pelas minhas humildes continhas, o terceiro milênio não começa, como dizem, no ano 2000. Começa no dia 1º de janeiro de 2001. Então por que tanto bafafá?
Quem sabe não seja porque a empáfia humana não tem limites? Em vez de se dar conta de que a vida é um bem tão perecível quanto um pastel de palmito, certos termocéfalos estão se programando para o réveillon do final do século. Ridículos!
Os mais ingênuos andam alardeando até que a maioria dos grandes hotéis do mundo já têm reservas esgotadas para a virada do ano 2000. Ora, só um desavisado não sabe que essas reservas foram feitas por agências de viagem, não por centenas de milhares de particulares previdentes.
Dia destes, a TV reprisou "2001, Uma Odisséia no Espaço". Deu o que pensar. Quando o assunto é especular sobre o futuro, até um estudioso respeitado, como Arthur C. Clarke, autor do livro que inspirou o filme, arrisca pisar na bola.
A aventura futurista do diretor Stanley Kubrick está datada, fede a bolor. Além de inflar a vaidade de soviéticos e norte-americanos durante a guerra fria, a corrida espacial não resultou em nada. Basta ver a precária situação financeira em que se encontra atualmente a Nasa.
E computadores, como o Hal, que agem por vontade própria, não poderão ser encontrados no ano 2001 nem lá na casa do Bill Gates.
Isso mostra que, em vez de especular sobre o futuro, a turma que está tão preocupada com o réveillon do ano 2000 deveria é estudar história.

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