São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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O Estado caixa-preta

Parece simplesmente inesgotável a capacidade de governantes e autoridades brasileiras de gerar indignação na opinião pública.
Já se sabe, há tempo, que o Estado gere mal as empresas que administra, que gasta mal os recursos que arrecada, em especial na área social. Tampouco é novidade que foi paulatinamente criada uma sequência interminável de vantagens para certas categorias do funcionalismo. E assim por diante.
Agora, a recente e aparentemente contornada crise bancária mostra outra face negativa do Estado: a de se ter transformado em uma autêntica caixa-preta. A sociedade não tem conhecimento de como são feitos os negócios e acordos em que seu dinheiro está envolvido. E não são negócios de pouca monta.
O Banco Central acaba de concluir as negociações relativas a dois bancos, um privado (o Econômico) e outro estatal (o Banespa).
Mas não há um mínimo de informações confiáveis sobre um ponto que deveria ser o primeiro a ser esclarecido: quanto de dinheiro público vai entrar (ou já entrou) em cada uma dessas transações?
Sabe-se, no caso do Banespa, que, entre outros ativos, entram os aeroportos do Estado de São Paulo. Mas não se sabe como essa operação permitirá ou não ao Tesouro Nacional ressarcir-se do que gastou ou ainda gastará no ajuste de contas com o Estado.
Da mesma forma, não se sabe até hoje, apesar do tempo transcorrido, quanto dinheiro público foi colocado no Econômico. Ignora-se o que venha a ser, exatamente, a parte "podre" do Econômico -que fica nas mãos do Estado- e o que é a parte "sadia", que vai para o Excel.
Já se vão alguns anos desde que a palavra "transparência" nos negócios público incorporou-se ao vocabulário político como uma necessidade impostergável.
No entanto, os casos do Econômico e do Banespa, para mencionar apenas dois dos mais expressivos, só demonstram que o Estado é tudo menos transparente. É, às vezes, uma caixa-preta, cujo segredo só é desvendado tarde demais, e, por vezes, uma caixa de Pandora, da qual saltam, abruptamente, desagradáveis surpresas para o bolso do contribuinte.

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