São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 1996
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Juros incompreensíveis

A expressiva entrada de recursos externos nestes primeiros dias de janeiro é mais uma demonstração de que as taxas de juros no Brasil continuam exorbitantemente altas. Desde meados de 1995 o Banco Central vem afirmando que as taxas financeiras cairão, porém lentamente. Haja lentidão!
Os títulos do governo pagam hoje juros reais na casa dos 20% ao ano. Nos países mais desenvolvidos, as taxas reais raramente ultrapassam os 3% em 12 meses. Para o brasileiro tomador de empréstimos, as taxas mais baixas estão ao redor de 4% ao mês. Na maioria dos casos, são ainda mais altas.
A entrada líquida de US$ 1,3 bilhão apenas nos sete primeiros dias úteis deste ano demonstra que a remuneração do capital financeiro no Brasil está muito mais alta do que seria necessário para equilibrar o balanço de pagamentos.
Em face do volume atual de reservas do país, fica claro que a diferença entre os juros internos e os oferecidos no mercado internacional é muito superior à que o mercado exigiria para compensar o risco de investir no Brasil.
Ainda que não seja possível definir precisamente qual o nível ideal de reservas internacionais, consagrou-se como critério de segurança manter o equivalente a seis meses de importações. Pois as reservas do Brasil já ultrapassam em mais de 100% esse montante. Nos últimos seis meses o país importou US$ 24,9 bilhões. E as reservas romperam a casa dos US$ 50 bilhões.
Manter essa fortuna em divisas custa caríssimo ao erário. Ao comprar dólares, o governo emite reais. Em seguida, estes são trocados por títulos públicos para evitar que o excesso de dinheiro em circulação anime a inflação. Assim, as reservas que a União aplica no exterior às modestas taxas de juros internacionais são aqui remuneradas a taxas incomparavelmente mais altas.
Tampouco resiste aos fatos qualquer eventual argumentação de que juros tão altos seriam necessários para conter um crescimento por demais rápido da economia. O problema hoje é a perspectiva de estagnação ou recessão. É muito difícil, pois, explicar o comportamento do Banco Central.

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