São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco volta a SP com problemas operacionais

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banespa que vai voltar ao controle do governador Mário Covas é um banco com reduzida capacidade operacional, inchado, com excesso de funcionários e de agências. Em resumo, um banco não ajustado a um ambiente de inflação baixa.
O ajuste terá que ser feito neste ano, o que certamente dissolverá a ampla frente política que se formou em São Paulo contra a privatização do banco.
O acordo entre os governos federal e paulista, que devolve o Banespa a São Paulo, determina que a nova administração aplicará um programa de "substancial redução de custos" -expressão polida para designar demissão de funcionários e fechamento de agências.
Deputados e prefeitos que apoiaram Covas contra o BC terão dificuldade para manter seu apoio a uma administração que, além de diminuir o tamanho do banco, terá que ser conservadora na concessão de novos empréstimos e dura na cobrança de operações antigas. E as prefeituras estão entre os devedores.
Os números não deixam dúvida quanto à necessidade do ajuste. Uma análise dos balanços de 1992, 1993 e primeiro semestre de 1994, o último publicado, indicam que o ganho inflacionário representava cerca de um terço das receitas totais do Banespa.
Ganho inflacionário é o que o banco obtém aplicando o dinheiro que fica parado na conta dos clientes. Sendo o caixa do governo do Estado, o Banespa recebe a arrecadação dos impostos e detém as contas de todos os servidores públicos. Um dia aplicando a folha de pagamento, por exemplo, dava um lucro excepcional no período de inflação alta, verificada até junho de 1994.
Com a inflação na casa de 1,5% ao mês, esses ganhos tornam-se inexpressivos. E retirado o ganho inflacionário, mostra o estudo da EFC Engenheiros Financeiros & Consultores, todo o lucro registrado nos últimos balanços transforma-se em pesados prejuízos.
Tal como está hoje, portanto, o Banespa não resiste ao mercado. Tende ao prejuízo, tem mais funcionários que os concorrentes e seus funcionários são mais caros.
Todos os bancos de varejo (com grande número de agências e de correntistas) passaram por esse problema. O ajuste invariavelmente foi uma mistura de corte de pessoal, fechamento de agências e aumento de receitas com a cobrança de serviços e diversificação de negócios.
Esse programa de ajuste custa dinheiro. Demitir funcionários e fechar agências é caro, especialmente porque, para fazer de modo civilizado, se oferecem vantagens para demissões voluntárias.
Por outro lado, um ingrediente essencial nesses programas é a informatização. Isso exige investimentos pesados em automação.
O governador Covas recebe, portanto, um banco em dificuldades e vai precisar, numa conjuntura de escassez, arrumar dinheiro para o programa de ajuste.
O Banco Mundial está financiando esses programas de ajuste de bancos estaduais estatais. E já anunciou ter US$ 1,5 bilhão disponíveis para o Brasil. Mas a condição não serve para Covas. O Banco Mundial só financia se for para privatizar.
Tudo considerado, o governador Covas, ao assumir o Banespa, está assumindo novos custos políticos e financeiros para sua administração. A seu favor, tem o fato de ter promovido o ajuste da Nossa Caixa. Mas o problema lá era infinitamente menor. Certamente, o Banespa ainda vai precisar de mais ajuda federal.

Texto Anterior: Fleury culpa governo federal
Próximo Texto: Leia a íntegra do protocolo assinado entre o governo de São Paulo e a União
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.