São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Proteína pode levar a vacina contra esquistossomo

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma proteína obtida por engenharia genética pode levar ao desenvolvimento de uma vacina contra a esquistossomose, doença transmitida pelo verme Schistosoma mansoni que afeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo, principalmente nos países pobres.
Esse é o resultado de estudo brasileiro publicado na primeira edição de janeiro da revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA ("Proceedings").
"A novidade do trabalho foi obter uma proteína recombinante capaz de imunizar camundongos não só contra a esquistossomose, mas também contra a fasciolose", disse Miriam Tendler, 46, do Departamento de Helmintologia do Instituto Oswaldo Cruz (RJ).
A fasciolose, transmitida pelo verme Fasciola hepatica, ataca gado bovino e ovino e tem importância econômica em países ricos.
Os testes mostraram que a "vacina genética" proporcionou um grau de imunização de 67% contra a esquistossomose e de 100% contra a fasciolose.
A vacina foi obtida pela extração do trecho de material genético (gene) responsável pela produção de uma proteína na fascíola.
O gene foi introduzido numa bactéria, que passou a produzir a proteína. Depois, o produto foi purificado e injetado em animais, cujo sistema de defesa passou a produzir anticorpos contra ela.
Ambos os vermes (fascíola e esquistossomo) têm proteínas do mesmo grupo que a proteína obtida, batizada rSm14 (sigla para proteína Sm14 recombinante).
Segundo a pesquisadora, as proteínas dos dois vermes e a rSm14 apresentam trechos muito semelhantes, por isso houve imunidade contra ambas as doenças. Mas a rSm14 é similar a proteínas do homem e de mamíferos.
"Teríamos de ter cuidado para desenvolver uma vacina (para o homem), porque a semelhança entre as proteínas poderia levar a uma reação auto-imune".
Reações auto-imunes acontecem quando o sistema de defesa reconhece uma substância do próprio organismo como estranha e passa a atacá-la.
Como a rSm14 é parecida com proteínas encontradas nos camundongos e no homem, as defesas dos mamíferos poderiam produzir anticorpos contra proteínas do próprio organismo desses mamíferos.
Tendler afirmou, porém, que "os testes não mostraram qualquer reação adversa (em cobaias)". Segundo ela, ainda não se conhece o papel das proteínas nos vermes.
O Instituto Oswaldo Cruz pediu há um ano a patente da proteína recombinante, que contou a com a participação de outros dois pesquisadores, Naftale Katz, também do Oswaldo Cruz, e Andrew Simpson, do Instituto Ludwig de Pesquisas do Câncer (São Paulo).
"A proteína rSm14 é considerada pela Organização Mundial da Saúde como um dos seis principais antígenos contra doenças em todo o mundo", conclui Tendler.

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