São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Relação Collor-Econômico é investigada

LILIANA LAVORATTI; ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Auditores do Banco Central e procuradores da República estão convencidos de que as empresas da família de Fernando Collor foram beneficiadas pelo Banco Econômico. Eles avaliam que o ex-presidente (90-92) teria evitado, em seu governo, que o BC interviesse na instituição.
Em troca desse suposto favorecimento, apontam que a Organização Arnon de Melo, de propriedade da família Collor, recebeu, em 1993, um empréstimo do Econômico no valor de US$ 600 mil.
Um procurador aponta que o suposto favorecimento político é a única explicação que poderia ser dada para justificar a alegada omissão dos dirigentes do BC para intervir no Econômico.
A falta de decisão para impedir o aumento do rombo (hoje estimado em US$ 3,5 bilhões) levou os procuradores a deduzir que houve falta de fiscalização entre 90 e 92. Mas depois ficou constatado que as vistorias foram realizadas.
Esse fato poderá levar os procuradores a mover nova ação judicial contra a conduta dos dirigentes do BC entre 90 e 92. Estão sendo processados por improbidade administrativa o atual presidente do BC, Gustavo Loyola, e os anteriores Pérsio Arida e Pedro Malan.
Para processá-los, a procuradoria se baseou no contrato de assistência financeira firmado no final de 93 entre o Econômico e o BC. Documentos do BC também revelaram que a fiscalização levantou o problema de falta de liquidez do Econômico ainda em 1989.
A ação sustenta que "os dirigentes do BC abriram mão de aplicar os mecanismos de controle que evitariam o fracasso do empréstimo no redesconto, renunciaram ao seu poder de fiscalização e monitoramento do Econômico".
Apesar de a organização ter atrasado os pagamentos, o Econômico nunca fez cobrança judicial da dívida e abateu o valor como perda nos balanços, reduzindo o Imposto de Renda pago. O banco nem sequer respondeu à proposta de renegociação feita pela direção da empresa em agosto de 1995.
Concedido em 5 de fevereiro de 1993, quando Collor já estava afastado da Presidência, o empréstimo foi apontado por um dos representantes dos sócios da Organização Arnon de Melo como um gesto político do ex-presidente do Econômico Ângelo Calmon de Sá, que foi ministro da Indústria e Comércio de Collor.
Crise
Na época, as empresas da família Collor enfrentavam sua pior crise devido ao derrame da mãe, Leda Collor e à disputa entre Fernando e seu irmão Pedro.
Pedro, que morreu em 1995, foi o autor das primeiras denúncias contra Collor, que acabaram provocando o impeachment em 1992.
Somente uma atitude de agradecimento, avaliam os procuradores, teria possibilitado o empréstimo. A Organização Arnon de Melo é formada pela TV Gazeta, rádios AM e FM, gráfica e o jornal "A Gazeta de Alagoas".

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