São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Cangaço revela fazedor de cabeças cortadas em PE

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O maior executor de cabeças cortadas do cinema brasileiro, hoje, é um pernambucano de 27 anos, Ricardo Spencer. Foram 22 cabeças cortadas só nos últimos três filmes sobre o cangaço, produzidos recentemente no Nordeste: "O Cangaceiro", de Aníbal Massaini Neto, "O Baile Perfumado", de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, e "Corisco e Dadá", de Rosenberg Cariry.
Seu trabalho chamou a atenção de uma equipe paulista encarregada da pré-produção de um novo filme sobre o Cangaço, inicialmente intitulado "Carcará", cujas filmagens devem começar em fevereiro ou março, no Ceará.
A equipe já o contatou e ele pode vir a ser o responsável pelas cabeças cortadas de "Carcará".
"Seu trabalho é de boa qualidade", diz Aníbal Massaini Neto.
"Foi uma cabeça cortada como a que nós queríamos a que ele nos fez", endossa Paulo Caldas, de "O Baile Perfumado".
Nos três filmes Spencer também fez outros efeitos especiais, como tiros, explosões e ferimentos. Ele é o único profissional do Norte e Nordeste especializado nesses efeitos especiais. "O dinheiro para os efeitos é sempre escasso, mas com criatividade dá para obter bons resultados", diz Spencer.
O principal material que ele usa para fazer as cabeças é o látex líquido (produto sintético que se assemelha à pele), adquirido nos EUA. O produto mais moderno utilizado é a espuma de látex, que reproduz até os poros humanos.
Os cabelos são sintéticos ou, na maior parte das vezes, naturais. Para conseguir os cabelos naturais Spencer diz que chega a ir a salões de cabeleireiros para apanhá-los.
Para fazer os olhos ele usa vidro, gesso e resina. Nos EUA se vendem olhos sintéticos, praticamente idênticos aos humanos.
"O problema é que se nós formos utilizar os produtos mais modernos, o trabalho acaba saindo caro demais. Temos que nos virar com o possível", explica.
Ele demora até três dias para fazer uma cabeça. "É preciso um cuidado extremado, para evitar que apareçam falhas como a junção das orelhas na cabeça ou dos cabelos", afirma. Uma cabeça cortada custa hoje, para a produção do filme, cerca de R$ 350.
Spencer fez um curso de efeitos especiais na Espanha. Vive soterrado de revistas e livros especializados em efeitos especiais. E não desgruda de um conjunto de oito horas de fita com cenas só de violência, com mãos decepadas, rajadas de tiros, cabeças cortadas, olhos vazados.
Spencer diz que seu trabalho é influenciado por duas feras dos efeitos especiais: Tom Savini e Dick Smith. O primeiro é responsável por tudo que existe de mais sanguinolento no "Sexta-feira 13". Já Smith ganhou o Oscar pelos efeitos em "Amadeus", com destaque para o "envelhecimento" do personagem Salieri.

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