São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Advogados alegam 'direito à privacidade'

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O "direito à privacidade" dos personagens retratados é o principal argumento dos advogados que defendem a censura a livros e filmes. Hoje, oito livros estão com a venda proibida por causa de liminares concedidas pela Justiça.
O advogado Saulo Ramos, consultor-geral da República durante o governo José Sarney, é um dos que defende essas proibições. "Se há temor de lesão contra uma pessoa, o livro deve ser suspenso por medida cautelar e depois julgado."
Ramos conseguiu a suspensão do livro "Mil Dias de Solidão", de Cláudio Humberto, ex-assessor de Collor (já liberado). Em 1979, ganhou uma ação contra o livro "Eu e o Rei", do ex-mordomo do cantor Roberto Carlos, recolhido e incinerado nos fornos da Prefeitura de São Paulo.
Para o advogado Paulo Aparecido de Oliveira, que suspendeu a circulação do livro "Psicopata", de Luiz Tavares Leite, a lei "proíbe que se escreva sobre qualquer um sem a devida autorização".
"Escritores e editores deveriam ter mais cautela. A Justiça não aceita mentiras e quer fatos comprovados. Quem soltar uma obra sem pé nem cabeça pagará por isso", diz Oliveira.
Para Sérgio Zveiter, 39, advogado da Rede Globo que cassou a liminar que censuraria a novela "Explode Coração", "o dano à pessoa não é irreparável; a Constituição afastou a censura e os órgãos devem ser responsabilizados pelos danos, sem censura prévia".
O presidente da Comissão de Comunicação da Câmara, deputado Marcelo Barbieri, 39, afirma que a Constituição (artigo 220º) pede uma lei complementar que não foi votada.
"Já aprovamos, em 92, na Comissão, a Lei de Imprensa. Mas até hoje não foi a plenário. Pessoalmente, acho que não existem razões para a censura. Mas como garantir o direito de resposta para pessoas que se sintam ofendidas em livros?", pergunta Barbieri.
O presidente da Academia Brasileira de Letras, Antonio Houaiss, afirma que a ABL está em recesso e por isso não tomou uma posição. "No caso do livro do Garrincha, é uma ação movida por interesses pecuniários. Se o lado individual tornado público for embargado, toda a historiografia brasileira será comprometida", diz Houaiss.
Luis Salles Nobre, advogado da família do Garrincha, diz que cada caso deve ser analisado separadamente. "A Constituição foi violada porque o autor não tinha autorização para uso da imagem. A imagem foi a única herança que Garrincha deixou para a família", diz.
A Ordem dos Advogados do Brasil também não submeteu o tema ao seu conselho. "As filhas do Garrincha podem não permitir que a imagem do pai seja denegrida. Não defendo a censura, mas não se deve tirar do Judiciário o controle da imagem dos outros", diz Guido Andrade, presidente da OAB-SP.
Os juízes que suspenderam os livros não foram encontrados pela reportagem -estão em férias até 20 de janeiro. Miriam Stanesco, advogada que pediu a censura de cenas da novela da Globo, não atendeu a reportagem.
A advogada que representa a Igreja Universal, Joyce Roysen, disse que "está impedida de falar por determinação judicial".

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