São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Miró dialoga com mestres do século 20

AUGUSTO MASSI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Picasso é um clássico moderno. Miró é um primitivo tardio. Picasso é andaluz. Miró é catalão. Picasso é mental. Miró é onírico. Picasso é figurativo. Miró é abstrato. Picasso é diurno. Miró é noturno.
Picasso, o inventor de mitos. Miró, o inventor de símbolos. Picasso procede por rupturas. Miró, por fraturas. Picasso profana. Miró tangencia o sagrado. Picasso condensa. Miró expande. Picasso é arte negra. Miró é arte japonesa.
O exílio de Picasso começou quando foi expulso da infância e sucessivamente da Espanha, das várias mulheres e das diversas fases de sua pintura. O exílio de Miró foi permanecer no mesmo país, com a mesma mulher, no mesmo universo pictórico.
A natureza de Picasso é problemática. A de Miró é silenciosa. Picasso isola as cores em fases: azul, rosa, etc. Miró liberta as cores. Picasso assombra. Miró surpreende.
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Matisse é síntese. Miró é bricolagem. Matisse harmoniza. Miró constela. Matisse busca a beleza clássica. Miró tira beleza do feio. Matisse é decorativo. Miró é artesão. Matisse esculpe com a tesoura. Miró pinta com as mãos.
Matisse é sensual. Miró é erótico. Matisse é dança. Miró é música. Matisse é "Jazz". Miró é "Carnaval do Arlequim". Matisse abole o acaso. Miró recoloca o acaso. Matisse quer o trapo perfeito. Em Miró o traço oscila entre a suspensão e permanência.
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Klee é um filósofo da infância. Miró, um poeta. Klee é um iluminista. Miró, um bárbaro. Klee pesquisa. Miró explora. Klee vive num tempo mítico. Miró num tempo mágico. Klee é Norte. Miró é Sul.
Klee pensa por contradições. Miró por analogias. Klee é um pintor da cidade. Miró é um pintor do campo. Klee buscou um método. Miró abraçou o experimental. Klee está para o invisível assim como Miró para o visível.
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Calder é o irmão americano de Miró. Calder foi o primeiro a abrir uma fábrica de Mirós. Calder colocou vários Mirós em movimento. Passagem da lavoura catalã à engenharia mecânica de Calder.
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Pollock é um pesadelo de Miró. É um Miró com signo trágico. Pollock explodiu vários Mirós. Miró quis assassinar a pintura, Pollock tornou-se um "serial killer" da arte. Miró é um cosmo. Pollock goteja no abismo. O puritanismo de Pollock é a caixa preta de Miró.

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