São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 1996
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Conceitos x ações

De volta, por instantes, à pele de acadêmico, em entrevista concedida à revista "Esquerda 21", cujos trechos principais esta Folha reproduziu ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso desenvolve conceitos de grande interesse.
Sua concepção sobre o Estado e seu papel, por exemplo, está embebida de idéias de pensadores com visões de mundo conflitantes, o mitológico economista inglês John Maynard Keynes e o marxista italiano Antonio Gramsci.
De Keynes, FHC recupera a tese de que o conceito moderno é o de público, não o de estatal. De Gramsci, a teoria de que o Estado tem de ser aberto, "poroso, para que as organizações da sociedade civil tenham presença".
Na teoria, está desenhado um cenário quase ideal. O Estado afasta-se das funções empresariais, nas quais fracassou rotundamente mundo afora, mas não fica confinado a um papel mínimo, ausente, por exemplo, da cena social.
Assim, graças à porosidade defendida pelo presidente, deixa de ser essa entidade misteriosa e fechada que responde mais a si próprio do que à sociedade.
Enquanto flutua pelo mundo dos conceitos, FHC revela-se quase impecável no diagnóstico. O problema é que, entre conceitos e ação, continua existindo um abismo. Só mesmo o mais fanático dos fernandohenriquistas seria capaz de dizer que, hoje, um ano depois de assumir, o Estado que ele comanda é mais poroso do que antes, ou mais presente nas suas tarefas sociais.

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