São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Preconceito diminui uso de 'pílula' injetável

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A entrada de uma nova marca de anticoncepcional injetável no mercado reacendeu as discussões sobre o uso desse tipo de medicamento. Lançado no Brasil em meados da década de 80, esse contraceptivo ainda é pouco difundido no país.
Apenas cerca de 350 mil brasileiras usam o método, segundo o presidente da comissão nacional de planejamento familiar da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), Nílson Roberto de Melo.
O método consiste na aplicação mensal de uma injeção da substância que mistura os hormônios femininos estrógeno e progesterona para inibir a ovulação (veja quadro abaixo).
O funcionamento é semelhante ao das pílulas anticoncepcionais (via oral), com a diferença que os hormônios ficam no organismo durante 30 dias. A eficácia dos dois métodos é idêntica: 99,5%.
Um dos medicamentos no mercado recomenda a aplicação da injeção entre o 5º e o 8º dia da menstruação. O outro disponível fixa a aplicação a cada 30, independente da data da menstruação.
"A aplicação mensal é mais prática, mas muita gente não gosta de tomar injeção, mesmo uma vez por mês", afirmou Melo.
Os anticoncepcionais injetáveis podem ser usados por qualquer mulher que toma pílula, mas são recomendados principalmente para dois tipos de pacientes: as que têm problemas digestivos (enjôos, gastrite, úlcera etc) e as que se esquecem de tomar o medicamento.
Outros fatores que também levam à prescrição desse método são a ocorrência de pressão alta, varizes e determinados tipos de diabetes. "Cada caso é um caso. É preciso fazer a consulta para saber o que é mais adequado", diz
A principal desvantagem das injeções para a pílula é a ocorrência de irregularidades no ciclo menstrual das pacientes. "Pelo menos 40% das mulheres que utilizam o método sofrem de irregularidade, tanto pelo aumento do sangramento quanto por atraso da menstruação", disse o ginecologista Alexandre Ades, 32.
Segundo Ades, esse fenômeno não é prejudicial do ponto de vista médico. "É mais uma questão de desconforto", afirmou.
Mesmo assim, ele é o principal responsável pela descontinuidade, ou seja, interrupção do uso, segundo o médico. Alguns estudos dizem que 50% das mulheres que optam pelos anticoncepcionais injetáveis acabam abandonando o método após certo tempo.
Para Melo, essa baixa utilização do método se deve a um certo preconceito por parte dos médicos. "Eles tem um certo receio por causa da alta dose de hormônios, o que é injustificado", afirma.
É que o tipo de hormônio usado nas injeções tem composição química diferente do utilizado para as pílulas (leia texto abaixo).

Texto Anterior: Carioca considera sua polícia pior
Próximo Texto: Escriturária prefere agulha a risco de gravidez
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.