São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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28% defendem tortura e 70% são contra

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Para 28% dos entrevistados, a tortura de um suspeito pode ser usada pela polícia para obter uma confissão. Desses, 23% defendem seu uso às vezes, e 5%, sempre.
A maioria dos entrevistados, porém, é contra a tortura. Esse índice é de 70%.
Para 65%, a polícia usa tortura sempre (33%) ou de vez em quando (32%) em relação a um suspeito. Os que acreditam não haver tortura em hipótese alguma somam 18%.
Suspeitos detidos nunca devem ser torturados para os mais escolarizados e os que possuem renda superior a 20 salários mínimos por mês -taxa de 79% nos dois segmentos sociais.
Entre brancos e negros, 72% repudiam a tortura sob qualquer justificativa. Esse índice cai para 64% entre os pardos.
Osasco
O pedreiro Reginaldo Nunes de Oliveira foi preso às 11h por uma equipe do 1º DP (Distrito Policial) de Osasco no dia 26 de setembro passado. Às 15h30 estava morto, enforcado numa cela.
A família do pedreiro acusa a polícia de tê-lo torturado até a morte. O ombudsman da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano, investiga o caso.
Primo do pedreiro e investigador de polícia, Wagner Nunes Leite pediu garantia de vida ao ombudsman para ele e sua família.
"É verdade que ele era viciado em crack e que havia cumprido pena de três meses por roubo, mas isso não quer dizer que tenha furtado a furadeira como diz a polícia e que mereça morrer desse jeito", afirma Leite.
Mulher do pedreiro, Lucinéia Lacerda Magalhães diz que viu seu marido antes de morrer. Segundo ela, Reginaldo tinha manchas de sangue no peito e gritou, como se estivesse sendo torturado, ao ser levado para uma sala.
Segundo a família, o pedreiro foi preso por um crime que não cometeu. No dia do suposto furto, ele estaria viajando.
O primo do pedreiro aponta ainda uma omissão do laudo do IML (Instituto Médico Legal) para levantar suspeitas sobre a morte.
O laudo não responde ao quesito em que se pergunta se a morte "foi produzida por tortura ou meio insidioso ou cruel". Diz que Reginaldo morreu por "asfixia mecânica" (enforcamento).
Leite diz enfrentar pressões dentro da própria polícia. Por duas vezes, a Delegacia de Proteção a Dignitários, Autoridades e Representantes Consulares tentou transferi-lo para a zona leste sem avisá-lo.
"A polícia existe para servir o cidadão, não para ameaçá-lo. É o que está na Constituição", afirma Leite, que vai depor amanhã sobre o caso na delegacia em que seu primo morreu.
O delegado-titular do 1º DP de Osasco, José Eugênio Carlos de Sá, diz que o pedreiro se enforcou por temer voltar à cadeia de Osasco, onde teria inimigos. "Conversei com ele, que me pareceu um desequilibrado, viciado em drogas", diz.
(KA)

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