São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996 |
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Revistas são rotina para jogador que tem 'carrão' Atletas negros dizem que são tratados com truculência KENNEDY ALENCAR
Os três pertencem à Portuguesa. Tico, 25, é atacante. Roque, 22, e Capitão, 29, são volantes. Tico e Roque lembram de um dia em que foram cortar o cabelo em salões do centro de São Paulo especializados em cortes para negros. Pegaram carona no Kadett GSi branco e conversível do amigo Baiano, também jogador. Segundo Tico, três policiais, em motocicletas, começaram a seguir o veículo. Os policiais ligaram a sirene e acenderam os faróis várias vezes. "Quando paramos no sinal, encostou um do lado direito, outro do esquerdo e mais um atrás", diz Roque. Os policiais, segundo o relato de Tico e Roque, sacaram os revólveres e ordenaram rispidamente que descessem do carro. Houve um rápido bate-boca, com os jogadores dizendo que não eram ladrões para apresentar documentos sem motivo, e os policiais insistindo em revistá-los. Baiano, hoje no Bahia, acabou com a confusão ao informar que eles jogavam na Portuguesa. Isso ocorreu em 1994. "Ás vezes, dá até raiva, a gente vê boyzinho passando de carro voando e a gente é parado só porque é negro", diz Tico, dono de um Tempra branco 93 com roda de liga-leve esportiva. Segundo o jogador, até mesmo policiais negros já chegaram a maltratá-lo e a seus colegas: "Não me conformo". Roque, que tem um Tipo preto 95 com rodas iguais às do carro de Tico, afirma que tem um pouco de temor quando sai à noite. "Sempre param a gente, só pode ser racismo". Capitão conta que, quando tinha um Chevette e um Gol velho, não costumava ser parado por policiais. Ao comprar um Uno 1.5R amarelo, isso mudou. "Não podiam me ver naquele carro que mandavam eu encostar rapidinho", diz Capitão. Em uma viagem para visitar parentes em Minas no ano passado, ele teve seu Uno parado na estrada por três vezes. "Nenhuma por excesso de velocidade." Capitão afirma que vendeu o Uno para evitar problemas. Agora, tem uma camionete Ford cabine dupla 95 "toda equipada". Mas continua sendo parado. "Virou rotina". (KA) Texto Anterior: Pai de mulher morta por PM confia na polícia Próximo Texto: 28% defendem tortura e 70% são contra Índice |
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