São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 1996
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Muito emprego causa inflação?

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Um debate dos mais interessantes está ocorrendo nos Estados Unidos: um nível elevado de emprego ou, equivalentemente, um baixo desemprego, faz a inflação crescer ou não?
Postulou-se, com a chamada "curva de Phillips", nos anos 50, que se a economia ficasse próxima do pleno emprego, haveria a tendência para haver inflação, por isso, um pouco de desemprego seria bom.
Esse pensamento ganhou versão mais rigorosa quando o professor Milton Friedman, eleito presidente da Associação Americana de Economia, em 1967, formulou, em seu discurso de posse, o conceito de "taxa natural de desemprego".
A taxa natural de desemprego seria aquela na qual não haveria pressão altista sobre os preços, ao custo de a economia operar um pouco abaixo do pleno emprego.
Nos anos 50, 60 e 70, quando o desemprego caía abaixo de 6%, em dois ou três meses a inflação começava a subir (uma inflação na casa dos 3% anuais), e vice-versa.
Mas, desde meados dos anos 80, a taxa de desemprego está abaixo de 6%, e a inflação nos Estados Unidos está comportada; até com tendência de cair para 2% em 96.
Diante disso, muitos economistas e políticos têm afirmado que não existe relação entre emprego e inflação (atenção autoridades de Brasília), pelo menos quando não se tem choque externo. E o Banco Central americano parece concordar, pois há três semanas cortou mais um pouco a taxa de juros do mercado interbancário.
Por que a antiga relação emprego-inflação teria se enfraquecido nos anos 90? Esse debate não está ainda concluído, mas as hipóteses sendo testadas são as seguintes. Primeira, o aumento da globalização aquietou a inflação, pois se tornou mais fácil importar insumos.
Segunda, a revolução na produtividade das indústrias americanas, trazida pela computadorização, estaria causando ganhos grandes de produtividade, e o PIB poderia continuar a crescer com inflação baixa.
Em conclusão, essa é uma boa controvérsia, que ainda vai gerar muitos artigos e testes econométricos. Enquanto isso, como essas notícias parecem não ter chegado à Brasília, o governo está feliz com a recessão que provocou no Brasil!

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